domingo, 13 de julho de 2008

UM BISPO NOTÁVEL

Excerto da chamada “Carta a Salazar”, dirigida ao ditador por D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, em 13 de Julho de 1958:

“Apesar do meu feitio sedentário, não tenho nos últimos anos recusado as oportunidades que se me oferecem de viajar pela Europa; e tenho-o feito ao rés da terra e da gente e com toda a possível atenção. (…) Não poderei dizer quanto me aflige o já hoje exclusivo privilégio português do mendigo, do pé-descalço, do maltrapilho, do farrapo; nem sequer o nosso triste apanágio das mais altas médias de subalimentados, de crianças enxovalhadas e exangues e de rostos pálidos (da fome e do vício?).”

A ousadia custou ao nobilíssimo bispo o exílio, já que, tendo saído de Portugal após a redacção da “Carta” , em viagem de trabalho, Salazar lhe impediu o regresso, dando ordens para que a fronteira se lhe fechasse.


Transcrevemos, com a devida vénia, o poema do Digmº Professor João de Castro Nunes, que exprime um vigoroso protesto contra as arbitrariedades e violências do Poder sobre a liberdade do pensamento:

Crimes de opinião

Vem do fundo dos tempos um clamor,

de todos os quadrantes do universo,
contra o poder despótico, perverso,
que encheu a humanidade de pavor:

gritos de sofrimento nas fogueiras
ateadas pela Santa Inquisição,
gente de bem metida na prisão,
execuções sem culpas verdadeiras.

Quando passeio os olhos da memória
pelas vilezas de que fala a história,
um sentimento de asco me domina.

Perante os crimes que o poder inventa,
não há sabão, lexívia ou água benta
que lave a mão que as mentes assassina!

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