segunda-feira, 3 de março de 2008

AINDA A HOMENAGEM A AFONSO DUARTE

A ALTERNATIVA - Associação Cultural transcreve hoje aqui, com a devida vénia, três poesias dedicadas a Afonso Duarte. Os autores são nossos Amigos. As duas primeiras composições são devidas à inspiração de João de Castro Nunes e a última pertence a Júlio Correia. Obrigado a ambos, por terem querido partilhar connosco esta amostra do grande talento que lhes assiste.

“O que foi deles é meu”
Afonso Duarte


Em vão não foi, Poeta, que viveste
nas imediações de Montemor

frente a cujas muralhas escreveste
poemas como os quais não há melhor.


Não sei se vez alguma tu soubeste
que o denodado Cid Campeador
andou por esse solo onde quiseste
permanecer por arraigado amor.


Onde outros pela história se ilustraram,
como o autor da “Peregrinação”
e o bravo Rei que mal aconselharam,


tu, pelo dom da tua Poesia,
tiveste a dita de, nesse rincão,
lhes teres feito boa companhia!


João de Castro Nunes


Afonso Duarte

Embora sem cadeira na tribuna
do mundo literário teu coevo,
tens o direito a ter uma coluna
entre os poetas com algum relevo.


Se não figuras nas antologias
e nos compêndios de índole escolar,
o certo é que nas tuas poesias
se manifesta uma alma singular.


Sem definido rumo literário,
a tua poesia é mais que nada
um eco do teu génio libertário.


Na tua pátria voz amordaçada,
Ereira, a tua aldeia bem amada,
parte fará do nosso itinerário!


João de Castro Nunes




MEMENTO SINÓPTICO (*)
(a Afonso Duarte)


Poeta saudosista e do lirismo,
demarcou-se de Nobre e de Junqueiro
e, resoluto, entrou p’lo modernismo,
mantendo-se Poeta por inteiro!
E os jovens poetas, seus amigos
(tal como, no Soneto, ele pedia),
recusando o letargo e seus perigos,
não o deixam morrer, dão-lhe alegria!

Foi com árvores, com pedras e rios
que compôs toda a sua humanidade.
Amou a Poesia, sem desvios,
e, mesmo em tempos rudes e sombrios,
nunca escondeu a sua identidade.
E tinha muito orgulho na Ereira
- a sua Guernesey mártir, dorida –
que lhe mostrou a luz fria do inverno
e nunca, para ele, foi barreira,
mas, sim, a terra-Mãe, prenhe de vida,
em cujo ventre dorme o sono eterno!


*Cf. “Ilha dos Amores” Júlio Correia
“Diálogo com a Minha Terra”
“Soneto a jovens, meus amigos” (01.03.2008)

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