quarta-feira, 4 de junho de 2008

CASA

A luz de carbureto
que ferve no gasómetro do pátio
e envolve este soneto
num cheiro de laranjas com sulfato
(as asas pantanosas dos insectos
reflectidas nos olhos, no olfacto,
a febre a consumir o meu retrato,
a ameaçar os tectos
da casa que também adoecia
ao contágio da lama
e enfim morria
nos alicerces como numa cama)
a pedregosa luz da poesia
que reconstrói a casa, chama a chama.


Carlos de Oliveira (1921-1981), Trabalho Poético

1 comentário:

Anónimo disse...

Quando se é Poeta, é-se Poeta mesmo, independentemente do vocabulário ou até por isso mesmo. Que força tem este poema do gandarês Carlos de Oliveira a mostrar que pela Poesia se pode reconstruir, pedra a pedra ou chama a chama, uma nação despedaçada, a nossa casa reduzida um montão de escombros! Acertada e oportuna escolha.

João de Castro Nunes