Aquele claro Sol, que me mostrava
O caminho do Céu mais chão, mais certo,
E com seu novo raio ao longe e ao perto
Toda a sombra mortal m’afugentava,
Deixou a prisão triste, em que cá estava.
Eu fiquei cego e só, c’o passo incerto,
Perdido peregrino no deserto,
A que faltou a guia que o levava.
Assi, c’o esprito triste, o juízo escuro,
Suas santas pisadas vou buscando
Por vales e por campos e por montes.
Em toda a parte a vejo e a figuro.
Ela me toma a mão e vai guiando,
E meus olhos a seguem, feitos fontes.
ANTÓNIO FERREIRA (1528-1569)
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O ÚLTIMO COMBÓIO
(inédito)
O último combóio vi partir
contigo a bordo, enquanto na estação
adeus eu te dizia com a mão
até não mais, amor, te distinguir!
Parado ali fiquei, sem reagir,
e, por assim dizer, colado ao chão,
até que me saíste da visão
com teu suave jeito de sorrir.
A tua imagem foi-se dissipando
à medida que o trem se ia afastando
inexoravelmente para o céu.
Foi como se uma névoa me ocultasse
tuas feições, a tua linda face
por trás, ó meu amor, de espesso véu!
João de Castro Nunes
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