Uma bela manhã, num povo de gente adorável, um homem e uma mulher soberbos gritavam na praça pública: «Amigos, quero que ela seja rainha!» «Quero ser rainha!». Ela ria e tremia. Ele falava de revelação, de prova terminada. Desfaleciam nos braços um do outro.
E efectivamente foram reis, por toda uma manhã, quando os véus carminados se ergueram sobre as casas, e por toda uma tarde, para os lados dos jardins de palmeiras.
Iluminações – Uma Cerveja no Inferno (tradução de Mário Cesariny)
1 comentário:
RIMBAUD
Quem rei não foi, Poeta, vez algum
numa manhã que fosse ou numa tarde
ainda que sem pompa nem alarde
em trono imaginário de ouro e bruma?!
Quem não bebeu, Poeta, na existência
com Satanás a taça do pecado
e não brindou com Deus, regenerado,
após longa e penosa penitência?!
Quem como tu, Poeta, não sofreu
o anátema cruel da maldição
optando pelo inferno em vez do céu?!
Só que nenhum de nós teve a coragem
de sorver a cicuta, à tua imagem,
em plena graça de "iluminação"!
João de Cstro Nunes
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