segunda-feira, 9 de março de 2009

RIMBAUD E O AMOR

Uma bela manhã, num povo de gente adorável, um homem e uma mulher soberbos gritavam na praça pública: «Amigos, quero   que ela seja rainha!» «Quero ser rainha!». Ela ria e tremia. Ele falava de revelação, de prova terminada. Desfaleciam nos braços um do outro.

E efectivamente foram reis, por toda uma manhã, quando os véus carminados se ergueram sobre as casas, e por toda uma tarde, para os lados dos jardins de palmeiras.

 JEAN-ARTHUR RIMBAUD (1854-1891)

Iluminações – Uma Cerveja no Inferno (tradução de Mário Cesariny)

1 comentário:

Anónimo disse...

RIMBAUD

Quem rei não foi, Poeta, vez algum
numa manhã que fosse ou numa tarde
ainda que sem pompa nem alarde
em trono imaginário de ouro e bruma?!

Quem não bebeu, Poeta, na existência
com Satanás a taça do pecado
e não brindou com Deus, regenerado,
após longa e penosa penitência?!

Quem como tu, Poeta, não sofreu
o anátema cruel da maldição
optando pelo inferno em vez do céu?!

Só que nenhum de nós teve a coragem
de sorver a cicuta, à tua imagem,
em plena graça de "iluminação"!

João de Cstro Nunes