terça-feira, 7 de abril de 2009

COZINHAR A COZINHA



A cozinha – Sem o som dos passarinhos de uma dona de casa que trauteie uma melodia em voga enquanto apronta o jantar para as oito em ponto. Minuciosa. Sem os risos e as botas dos homens que chegaram da caça e vão por ali entornar vinho e pegadas de lama só porque há uma maneira especial de comer aquele bicho bravio. Como o viram fazer ao avô, ainda pequenos, quando por graça lhes davam uma batata para descascar. A cozinha moderna são uns mosaicos polidos pela nostalgia de comer (a alegria). Sítio anacrónico. Mostruário de utensílios muito quietos, e funcionais, no meio dos quais se aquece e faz e volta a aquecer café e se espalham migalhas de tostas e facas sujas de lacticínios vários.


ALEXANDRE MELO,  Velocidade Contemporânea

1 comentário:

Anónimo disse...

TER OU NÃO TER PALADAR:
eis a questão

Era um prazer irmos os dois ao Minho
fazer as honras da gastronomia
daquela região do Santoinho
onde soberbamente se comia!

Desde Ponte de Lima ao Laboreiro,
passando pela Póvoa de Varzim,
mesmo sem se gastar muito dinheiro,
em parte alguma se comia assim!

Arroz de sarrabulho, de marisco,
arroz de cabidela, que petisco
de nunca mais a gente se esquecer!

Fazendo minha a tese de Aquilino,
direi não ter carácter genuíno
quem paladar dá mostras de não ter!

João de Castro Nunes