Navegamos por águas longe e pelo nevoeiro. A bordo do nosso navio fantasma SOMOS O QUE SOMOS e ao nosso redor apenas o chapinhar das águas misteriosamente calmas de encontro ao casco nos impressiona e informa. Acreditamos que jamais o homem será escravo enquanto houver um só Poeta, isolado e ignorado que seja, a reclamar a si mesmo a decisão ou indecisão magníficas.
(….)
Agrada-me profundamente saber que eu estou num ponto do Universo que necessita ser esticado para o lado de fora, quero dizer: para a minha frente. (…)
O Futuro é tão antigo como o Passado. E ao caminharmos para o Futuro é o Passado que conquistamos!
(….)
ANTÓNIO MARIA LISBOA (1928- 1953), Poesia
2 comentários:
INTEMPORALIDADE
"O Futuro é tão antigo como o Passado"
António Maria Lisboa
É no Futuro inquestionavelmente
que se oculta o Passado, dia a dia,
pelos caminhos da sabedoria,
colocado à mercê da nossa mente.
Para expressar-me figuradamente,
uso fazendo de uma alegoria,
eu congemino a cena que seria
mordendo a cauda a boca da serpente.
Na altura em que a Ciência for capaz
de imaginar o termo do Universo,
vislumbra-se o que fica para trás.
Vendo a medalha pelo seu reverso,
podemos vir a ter seguro indício
de como tudo teve o seuinício!
João de Castro Nunes
"...enquanto houver um só..."
Lembrando António Maria Lisboa
Enquanto houver na terra um só Poeta
o espírito não morre no universo,
pois cabe muitas vezes num só verso
o que de qualquer forma nos afecta!
Enquanto houver na terra Poesia
cheirando a rosas brancas de toucar,
a alma dos homens, mesmo a mais vulgar,
nunca, jamais se sentirá vazia!
Enquanto a liberdade persistir
em poeticamente resistir,
não se pode falar de escravidão!
Independentemente da nação,
basta um Poeta, quando verdadeiro,
para manter-se livre o mundo inteiro!
João de Castro Nunes
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