“Há sempre os ganhadores e os perdedores, uns fazem-se à custa dos outros. -Sto Agostinho
Alguém se dirige ao anónimo e todos desviam o olhar, depois a atenção e por fim a fala…
O louvor intumesce a cauda ao "pavão", proclama com mestria de oratória o louvado e, eis então, que este chega à ribalta num ápice, consagrado pelo aplauso colectivo.
Convencidos da vida existem afinal por toda a parte, em todos e, por todos os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da superioridade das suas obras, que sabem manobrar, em prol da sua finalidade, ávidos de projecção social.
Hoje surgem às centenas em tudo quanto é lugar: na política, no trabalho, na TV e jornais, no ginásio, no café e até nas obras sociais…
Culto do ego, ou idolatria social?
Converteu-se então numa generalidade esta presunção, ao ponto de se transformar numa característica adquirida, sob forma de litigância social. É fomentada no seio de muitas famílias, que cultivam a "petulância", entendendo-a como arma de defesa da sua posição civil. Uma boa postura, um bom ar e um toque de cultura, dissimulada na exibição de um canudo, ajudam a criar um “super-ego”, ocultando fraquezas da penumbra daquele que se quer alardear.
Depois, é só treinar, praticando o auto-convencimento, como forma de acreditar que se é capaz, numa "performance" hábil, em prol da sua vaidade.
Quem não os vê por aí?
No corre-corre diário, o convencido da vida não é um pernóstico à toa. Ele quer extrair da sua vaidade não gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes…
Os epítetos arcaicos da nobiliarquia foram substituídos pela antonomásia expressa pelo “Dr.” e vai-se perdendo a individualidade, para se globalizar um sectarismo de sujeitos abrangidos por aquela metonímica que fez deles homens doutos e, portanto, com direito tácito a proeminência nalgumas sociedades actuais, herdeiras das culturas clássicas de organizações sócias demasiado estruturadas, com um Antigo regime tardio.
Prevalece assim o fervor dos títulos, arreigados a uma tradição de exuberância, cujos trajos “de luzes” têm ofuscado os comuns, funcionando como um disfarce que dominou os pelintras face à fidalguia, que ostentava o brasão, ou os “futricas,” em relação aos homens da “beca” no século XIX, portadores de insígnias com prerrogativas nobiliárquicas”.
Mas, quando a máscara da vaidade cai...fica-se nu, como todos vieram ao mundo, como todos haverão de partir dele!
É o disfarce que nos faz passar incólumes por entre as gentes, dá-nos força, acalenta os nossos dias, faz-nos reconhecidos na colectividade, espanta-nos os medos, convence-nos da superioridade, cultiva a soberba.
A realidade é uma luz fria, sem socapas iluminadas pelas gambiarras sociais, que tanto mais cintilam quanto mais variadas e potentes forem as acendalhas, contrapondo o homo vitroviano, a cru, anatómico.
"Ver claro é não agir", escreveu Fernando Pessoa Porém, poucos vislumbram com clareza, por isso encontram no espavento de um cognome, a melhor “muleta” um mérito, tantas vezes oco.
“Nem que essa grandeza possa ser breve…. Praticam uns com os outros apenas um “espelhismo” lisonjeador… “ - Alexandre O'Neill
MARGARIDA VIZEU - Associada da Alternativa
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