segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A CULTURA PARA A CULTURA !


Um dia coloquei a seguinte questão a alguns dos meus amigos: “para que serve a História?” As respostas obtidas foram várias e, claro, com explicações envoltas em sentimentos e opiniões pessoais - legítimas e compreensíveis.

E em Janeiro de 2008 o Prof. Carvalho Homem levou esta questão à discussão neste blog dando-lhe um sentido mais lato, colocando a questão: “para que serve a Cultura?”. Creio que adivinhou outra pergunta sobre a qual gostaria de saber opiniões.

Mas a razão da minha questão não resultou de quaisquer “dúvidas existenciais” do meu íntimo, pois seria no mínimo frustrante que alguém com a minha formação (História) e um percurso profissional ligado à História e Património tivesse necessidade de encontrar uma resposta.

Na verdade resolvi fazê-lo pela simples razão de esta mesma pergunta me ter sido colocada por diversas pessoas, desde que escolhi Humanidades no 10º Ano. Trabalhei em diversas áreas, desde a educação aos museus e arquivos, e muitas vezes era confrontada pelos outros com esta mesma pergunta: “para que serve a Cultura?”.

Considero que se ainda hoje esta pergunta se coloca, é porque existe algo de errado.Trata-se de um indício, de um sintoma... E a meu ver, nós que temos respostas para estas perguntas, como cidadãos, devemos inverter essa situação.Penso ser igualmente motivo de preocupação que ainda exista dificuldade por parte de alguns profissionais ou de quem usufrui dos serviços e actividades de escolas, museus, arquivos... em responder e justificar as duas perguntas acima referidas. Constata-se que em alguns casos os próprios responsáveis ou agentes das mesmas instituições, indubitavelmente ligadas à “Cultura”, tenham dificuldade em combater este “síndroma de incógnita” que paira nas mentes daqueles que perguntam e que não encontram justificação para estudar, investigar ou dedicar tempo a “coisas velhas” ou a “coisas que não servem se não para ocupar a mente e não trazem lucro nenhum”.

A esta altura, espero que alguns dos leitores deste blog estejam já a contorcer-se pois se é isso que está a suceder revela que estamos em sintonia de ideias e acredito que tenham imensos episódios de que se recordam deste tipo.

Mas, atenção, não estou a acusar ninguém em concreto. Estou apenas a apontar um facto na mentalidade da sociedade que considero revelador. Prefiro acreditar que se estas interrogações ou comentários existem, não se devem, como também já ouvi dizer, à ignorância ou aos gostos individuais, mas sim a uma falta de “Cultura para a Cultura” e de um saber fazer de uma parte dos responsáveis e profissionais das mais diversas áreas ligadas à Cultura. Como podem vingar e ser produtivos os esforços de evolução, envolvimento e participação cultural se ainda existem tantas dúvidas como as que relato?

Neste sentido, penso que existe uma necessidade de mudança (mais intensiva) e de criação de uma “Cultura” de afirmação e sensibilização, identidade e propaganda por parte de todos os cidadãos que vivem e trabalham nas áreas e instituições culturais. Somos todos responsáveis!

Não acho correcto guardar o que é de todos só para cada um de nós ou encerrá-lo em espaços culturais como se apenas existissem ainda os “Gabinetes de Curiosidades”. A Cultura é identidade, é de todos e para todos...o património de um museu ou de um arquivo (público) pertence-nos e pertence às gerações futuras.

A fruição cultural anunciada de alguns anos para cá como objectivo primordial que norteia a estratégia dos programas do Ministério da Cultura deve ser verdadeiramente efectiva e eficaz.

O nível de alfabetismo ou de avanço tecnológico não pode resumir-se a tão pouco... a um “magalhães” ou ao ensino do inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico – pode ser importante mas é redutor para a minha noção de cidadania.

O problema é mais profundo do que a falta de oferta de actividades culturais e prende-se com a abrangência e de como é encarado o significado da Cultura e o “consumo” dessas actividades para a sociedade em geral. É isto que tem que ser alterado!

Acredito que estamos, apesar de tudo a avançar, mas muito lentamente e de forma por vezes muito pouco programada, eficaz e célere. Não preciso dizer que o nosso país é muito rico e além de tudo tem vindo a mostrar-se um destino bastante procurado pelos amantes do Turismo Cultural (outra noção mais abrangente do que vulgarmente se julga). Acreditem ou não esta pode ser uma das “indústrias” do futuro de Portugal. Vamos apanhar este Comboio e preparar o terreno para que quando ele se transformar em TGV tenha qualidade e seja espontaneamente acessível a todos.

Uma das formas é saber explicar e colocar em acção estratégias realmente eficazes que respondam a estas perguntas e fomentem o hábito social de corresponder ao objectivo de "fruição cultural" como sinal de evolução e cidadania.

CRISTINA NOGUEIRA - Associada da ALTERNATIVA

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