segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Regicídio: "Acto isolado" ou "conspiração" ? - teses opostas confrontam-se em Coimbra

Coimbra, 28 Jan (Lusa) - O regicídio que ocorreu há 100 anos foi um "acto isolado" de dois membros da Carbonária, segundo o historiador Carvalho Homem, organizador de um colóquio, em Coimbra, em que o monárquico Pignatélli Queiroz vai defender a tese da conspiração.

"A tragédia do Terreiro do Paço foi um acto isolado de dois carbonários", declarou hoje à agência Lusa Amadeu Carvalho Homem, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.Assumido republicano, o historiador é presidente da associação cultural Alternativa, que promove sexta-feira e sábado, no salão nobre da Câmara Municipal de Coimbra, o colóquio "O Rei D. Carlos e o Regicídio".

Entre outros oradores convidados, intervirão Miguel Pignatélli Queiroz, ex-presidente do directório nacional do PPM e deputado independente eleito por Lisboa nas listas do PSD, e o historiador António Reis, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano - Maçonaria Portuguesa."Não se provou até hoje que houvesse uma conspiração republicana para matar o rei", afirma Carvalho Homem, que dissertará sexta-feira sobre o tema "D. Carlos e o grupo dos Vencidos da Vida".Manuel Buiça e Alfredo Costa, autores dos disparos que mataram o rei e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe, no dia 01 de Fevereiro de 1908, quando a família real regressava de Vila Viçosa, "eram militantes de base"."Não há uma conspiração republicana para assassinar D. Carlos", diz Carvalho Homem, frisando que a acção armada de Buiça e Costa, logo abatidos pela polícia real, "não teve um vínculo com o directório do Partido Republicano", a que pertenciam.

Para o professor de História Contemporânea de Portugal, que se especializou no estudo do republicanismo, o regicídio foi cometido por "dois homens desesperados que, por fanatização, puseram as armas a falar".Opinião diferente manifesta Pignatélli Queiroz, considerando que havia uma conspiração, com ligações internacionais, designadamente a França e Itália, para assassinar D. Carlos."O regicídio, auge de uma conspiração" é o título da comunicação que o antigo líder do Partido Popular Monárquico apresenta sábado. "Mas quem estava por detrás? Sabemos as organizações, mas não as pessoas", refere o deputado monárquico à agência Lusa, lembrando que "desapareceu o processo" relativo ao duplo atentado do Terreiro do Paço.Na época, "tínhamos em Portugal 40 e tal mil carbonários", acrescenta. Pignatélli Queiroz admite que a "ordem para matar D. Carlos" terá partido de responsáveis europeus do que designou por Franco-Maçonaria."Não sabemos pormenores, mas houve conspiração e inicialmente seria para matar João Franco. Depois decidiram assassinar D. Carlos, estadista e diploma de grande prestígio internacional, por saberem que com ele vivo seria muito difícil a instauração da República", comenta.Na sequência da suspensão da Carta Constitucional pelo rei, o chefe do Governo, João Franco, passou a exercer o poder em ditadura, suspendeu o Parlamento, reprimiu manifestações e encerrou jornais, prendeu activistas da oposição republicana e mesmo monárquica, ameaçando com a sua deportação para Timor.Sem a eliminação física de D. Carlos, líder máximo do regime monárquico, "a República não seria implantada em 1910. Estou disso convencido", insiste Pignatélli Queiroz.

O colóquio sobre o regicídio inclui ainda intervenções do presidente da Câmara de Coimbra, Carlos Encarnação, e dos investigadores Fernando Fava, Miguel Santos, Isabel Vargues e Noémia Malva Novais.

CSS.Lusa/Fim

Ver notícia aqui: http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=322838&visual=26

1 comentário:

Emanuel Guimarães disse...

Será, sem dúvida, muito interessante. É uma excelente iniciativa da ALTERNATIVA. Tenho pena de não poder comparecer.