terça-feira, 24 de junho de 2008

CAMINHO



Fez-nos bem, muito bem, esta demora;
Enrijou a coragem fatigada …
Eis os nossos bordões da caminhada,
Vai já rompendo o sol: vamos embora.

Este vinho, mais virgem do que a aurora,
Tão virgem não o temos na jornada …
Enchamos as cabaças: pela estrada,
Daqui inda este néctar avigora! …

Cada um por seu lado! … Eu vou sozinho,
Eu quero arrostar só todo o caminho,
Eu posso resistir à grande calma! …

Dexai-me chorar mais e beber mais,
Perseguir doidamente os meus ideais,
E ter fé e sonhar – encher a alma.

Camilo Pessanha (1867-1926), Caminho

4 comentários:

Anónimo disse...

BIBLIOTECA MUNICIPAL
CAMILO PESSANHA


Se nome algum devia figurar
na Biblioteca dita concelhia
do burgo tabuense, competia
ser o de alguém de espírito invulgar.

Ligado à terra pela sua mãe,
Pessanha, magistrado e professor,
poeta de um altíssimo valor,
seria nome que ficava bem.

Sem ter escola propriamente dita,
rival de Baudelaire e de Verlaine,
num livro só... deixou fama perene.

Mesmo que exista alguma contradita,
há quem o ponha a par, sem restrições,
de Fernando Pessoa e de Camões!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

IMPERDOÁVEL DESATENÇÃO
(CAMILO PESSANHA)


De Camilo Pessanha infelizmente
passou-se o centenário sem qualquer
demonstração real ou aparente
de tal evento se lembrar sequer.

Vai este desabafo dirigido
especialmente a Tábua por razão
de algumas vezes lá ter residido
por sua mãe ser dessa região.

Uma atitude nada confortável,
tratando-se de facto de um Poeta
indiscutivelmente genial.

Será que para Tábua é mais notável
João Brandão, que a tiros de escopeta
mandou matar o Padre Portugal?!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

OMINOSA OPÇÃO

Os teus lençóis de linho poluíram
os teus concidadãos, os naturas
da terra maternal, que preferiram
o João Brandão das hordas liberais.

Estando tu inquestionavelmente
entre os Poetas de maior valor,
os teus concidadãos, a tua gente
trocou-te por um vil salteador.

Passou-se o teu primeiro centenário
sem que as autoridades promovessem
qualquer sessão ou acto extraordinário.

Perante a indiferença oficial
que ao menos os munícipes soubessem
honrar o seu Poeta principal!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

ATRÁS DE CAMILO PESSANHA

Poeta! não vás só na caminhada;
deixa-me acompanhar-te por favor
ainda que à distância motivada
por eu te ser bastante inferior!

Irei calado, sem te importunar,
a cabaça do vinho transportando,
ouvindo a tua cítara tocar
embevecido sob o teu comando.

Quando parares para beber vinho
"acidulado e fresco" da cabaça,
não mais te pedirei que um bocadinho.

Fazendo-te discreta companhia,
minha intenção, Poeta! é ter a graça
de me enfrascar da tua Poesia!

João de Castro Nunes