Era como fechar o dia com as acendalhas, junto ao coração quase deserto. As mais simples palavras entravam em desgoverno, a sombra das tuas mãos cobria quase metade da terra. A meio da sala alguns pratos, incenso, a luz azul do computador, o sentimento ainda selado por atilhos, cordames, a música repetia-se cadenciada no cenário desastrado. E o sol, que desaparecera, e vénus, que brilhava, ardiam um no outro como troféus do coração.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
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CARVÕES AO RUBRO
Quando em Coimbra, um dia, em pleno outono,
os nossos corações se incendiaram,
fazendo-se um do outro escravo e dono,
não mais em nós as brasas se apagaram.
Fizesse sol ou chuva, noite ou dia,
em nossas almas sempre havia fogo,
bastando um sopro, quando esmorecia,
para em fogueira transformar-se logo.
Não precisámos nunca de acendalhas
e muito menos ressequidas palhas
para em carvões ao rubro nos mantermos.
Se é lícito expressar-me nestes termos,
ouso dizer que os nossos corações
arderam sempre como dois tições!
João de Castro Nunes
para
BOLHAS DE AR
Quando esmorece o meu patriotismo
e desfalece a minha presunção
de pertencer à clássica nação
que se imortalizou pelo lirismo;
quando me vence acaso o pessimismo
ainda que pela única razão
de não ter tido nunca ocasião
de praticar um acto de heroísmo;
recorro logo aos versos de Camões
para como acendalhas atiçar
as cinzas das extintas ilusões.
E por instantes arde em labareda
a minha fé, que a alma me embebeda
de sonhps, que são bolhas cheias de ar!
João de Castro Nunes
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