quarta-feira, 1 de outubro de 2008

IDEAL

Aquela, que eu adoro, não é feita

De lírios nem de rosas purpurinas,

Não tem as formas lânguidas, divinas

Da antiga Vénus de cintura estreita…

 

Não é a Circe, cuja mão suspeita

Compõe filtros mortais entre ruínas,

Nem a Amazona, que se agarra às crinas

Dum corcel e combate satisfeita…

 

A mim mesmo pergunto, e não atino

Com o nome que dê a essa visão,

Que ora amostra ora esconde o meu destino…

 

É como uma miragem, que entrevejo,

Ideal, que nasceu da solidão,

Nuvem, sonho impalpável do Desejo…


Antero de Quental

1 comentário:

Anónimo disse...

"MIRAGEM"

Antero de Quental, meu Santo Antero,
que electrizaste a minha juventude
pela tua bondade e porte austero,
ao mesmo tempo generoso e rude,

ainda agora sei, quase de cor,
os teus sonetos todos, mais de cem,
que são para o meu gosto os de maior
beleza e perfeição que fez alguém.

Também pelo Ideal, quando estudante,
lanças quebrei na liça com denodo,
armado em puro cavaleiro andante.

Tirando o Amor, Antero, tudo o resto
em vasa se desfez, como de resto
contigo aconteceu: fumaça e lodo!

João de Castro Nunes