Aquela, que eu adoro, não é feita
De lírios nem de rosas purpurinas,
Não tem as formas lânguidas, divinas
Da antiga Vénus de cintura estreita…
Não é a Circe, cuja mão suspeita
Compõe filtros mortais entre ruínas,
Nem a Amazona, que se agarra às crinas
Dum corcel e combate satisfeita…
A mim mesmo pergunto, e não atino
Com o nome que dê a essa visão,
Que ora amostra ora esconde o meu destino…
É como uma miragem, que entrevejo,
Ideal, que nasceu da solidão,
Nuvem, sonho impalpável do Desejo…
Antero de Quental
1 comentário:
"MIRAGEM"
Antero de Quental, meu Santo Antero,
que electrizaste a minha juventude
pela tua bondade e porte austero,
ao mesmo tempo generoso e rude,
ainda agora sei, quase de cor,
os teus sonetos todos, mais de cem,
que são para o meu gosto os de maior
beleza e perfeição que fez alguém.
Também pelo Ideal, quando estudante,
lanças quebrei na liça com denodo,
armado em puro cavaleiro andante.
Tirando o Amor, Antero, tudo o resto
em vasa se desfez, como de resto
contigo aconteceu: fumaça e lodo!
João de Castro Nunes
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