Decrépito o leão, terror dos bosques,
E saudoso da antiga fortaleza,
Viu-se atacado pelos outros brutos,
Que intrépidos tornou sua fraqueza.
Eis o lobo c’os dentes o maltrata,
O cavalo c’os pés, o boi co’as pontas,
E o mísero leão, rugindo apenas,
Paciente digere estas afrontas.
Não se queixa dos fados; porém vendo
Vir o burro, animal de ínfima sorte:
«Ah! vil raça – lhe diz – morrer não temo,
Mas sofrer-te uma injúria é mais que morte!»
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O LEÃO MORIBUNDO
(A minha versão)
Estando prestes a deixar a vida
por motivos de idade, o rei da selva,
à porta da caverna, sobre a relva,
quis dar certo realce à despedida.
Os vassalos, porém, sem diferença
de grandes ou pequenos, por igual,
deliberaram na totalidade
vingar-se de qualquer antiga ofensa.
Quando chegou do burro a sua altura,
nas pedras aguçando a ferradura,
- "Canalhha!" - para si disse o leão
que, erguenso-se, rugiu de tal maneira
que em alvoroço pôs a selva inteira,
não suportando... aquela humilhação!
João de Castro Nunes
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