sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O LEÃO VELHO

Decrépito o leão, terror dos bosques,

E saudoso da antiga fortaleza,

Viu-se atacado pelos outros brutos,

Que intrépidos tornou sua fraqueza.

 

Eis o lobo c’os dentes o maltrata,

O cavalo c’os pés, o boi co’as pontas,

E o mísero leão, rugindo apenas,

Paciente digere estas afrontas.

 

Não se queixa dos fados; porém vendo

Vir o burro, animal de ínfima sorte:

«Ah! vil raça – lhe diz – morrer não temo,

Mas sofrer-te uma injúria é mais que morte!»

 

Fábula de La Fontaine ( versão de Bocage) 

1 comentário:

Anónimo disse...

O LEÃO MORIBUNDO

(A minha versão)

Estando prestes a deixar a vida
por motivos de idade, o rei da selva,
à porta da caverna, sobre a relva,
quis dar certo realce à despedida.

Os vassalos, porém, sem diferença
de grandes ou pequenos, por igual,
deliberaram na totalidade
vingar-se de qualquer antiga ofensa.

Quando chegou do burro a sua altura,
nas pedras aguçando a ferradura,
- "Canalhha!" - para si disse o leão

que, erguenso-se, rugiu de tal maneira
que em alvoroço pôs a selva inteira,
não suportando... aquela humilhação!

João de Castro Nunes