segunda-feira, 22 de junho de 2009

EPPUR SI MUOVE

NOTA PRÉVIA : Com este texto, da autoria de um elemento da Direcção da ALTERNATIVA , iniciamos o novo modelo de desenvolvimento deste blogue, o qual passará a acolher os mais diversos textos, entre si ligados por um só traço comum: todos os Autores são nossos Associados.

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Faz hoje 376 anos que Galileu Galilei foi obrigado a abjurar as conclusões científicas a que havia chegado – teoria heliocêntrica – em função das suas investigações e observações como matemático e astrónomo, no seguimento das propostas de Copérnico. De facto, foi a 22 de Junho de 1633 que o então septuagenário e quase cego Galileu, de joelhos perante os esbirros da Santa Inquisição e face à ameaça da fogueira (lembremos que Giordano Bruno já havia sido queimado por defender teorias análogas), se viu compelido a retractar-se, denegando oficialmente as suas anteriores afirmações de que o centro do mundo planetário era o Sol e que a Terra, tal como os outros planetas, apenas girava em torno daquele.

Independentemente de inferências que se possam extrair acerca das propaladas «infalibilidades» do Papa e do Tribunal do Santo Ofício, ou das crueldades inumanas dos «donos e sicários» duma certa religião (nesses aspectos não diferente das outras), há que dizer que o dramático episódio constitui um dos mais representativos exemplos da luta histórica entre ciência e religião, entre um conhecimento racional, adquirido através da observação e do estudo perseverantes e uma fé cega, recheada de «verdades» teológicas. E veja-se, a propósito, a morosidade com que a Igreja admitiu o seu erro: só em 1992, passados mais de três séculos, a instituição encetou a revisão do processo, acabando por absolver Galileu em 1999, ainda assim não se referindo uma só vez à teoria heliocêntrica, mostrando-se, ela própria, incapaz de abjurar oficialmente das suas manifestas heresias.

Trata-se de uma luta antiga, que ainda não terminou, onde a ciência tem dado passos de gigante e a religião tem visto encurtar-se drasticamente o seu espaço. Todavia, a actividade humana, cheia de inconsequências, nem sempre faz o melhor uso das conquistas científicas e, nesse percurso, com frequência vai causando a poluição do planeta, o caos, a destruição imparável dos recursos. E, se bem que tudo isto nada tenha a ver com ciência, entendida esta como progresso do conhecimento humano, a verdade porém é que, dessa forma é alimentada a presença da religião nessa luta, arrogando-se esta de deter um estatuto de interlocutor válido. E porque assim é, assistimos à difusão de frases como: a ciência perder-nos-á; somente a religião nos poderá salvar.

Bombardeados com este discurso, os terráqueos, habitantes do tal planeta que gira em torno do sol, continuam a sua caminhada, entre uma perspectiva lídima de progresso, de felicidade, de bem-aventurança e o apelo lúgubre de uma visão salvacionista que convoca o terror e o sofrimento como factores necessários para que, enfim, numa outra vida…, sendo esta uma certeza tão grande quanto aquela que permitiu condenar Galileu Galilei, homem sincrético que tanto tinha de cientista como de religioso. Seja-nos permitido repetir, a favor da Ciência e contra a cegueira, a frase célebre de Galileu: "Eppur si muove"!

FERNANDO FAVA

Direcção da ALTERNATIVA-Associação Cultural

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