Na tremida teocracia iraniana, o poder está a desfazer-se na rua. A culpa é desse "maldito" sistema de dar ao povo a capacidade de escolher o presidente de um País, através do insuspeito (?!) voto, País que é apenas sonhado pelo nosso imaginário, de tão longínquo que está.
No dia 12 de Junho, dois protagonistas envolveram-se numa luta eleitoral. Mahmud Ahmadinejad – nome bem mais fácil de escrever, do que pronunciar – manteve a aposta de renovar o poder; Mir Hossein Mussori quis mudar o status quo. São tantos os eleitores, bem mais que as mães de cara e cabelo tapados, que a contagem dos votos demorou tempo.
Segundo rezam as crónicas dos suspeitos e insuspeitos, a vitória foi mais do mesmo: Ahmadinejad renovou o mandato perante os protestos de meio mundo.
O povo saiu à rua. Talvez na ânsia de protagonizar a revolta islâmica de 1979. Quis saber onde paravam os seus votos. Foram tantos os protestos que o tal meio mundo ia acompanhando o que se passava na terra dos ayatollah’s. Com o aumentar da dor da tola, o guia supremo, Ali Khamenei (cá vai mais um nome impronunciável) tentou colocar um ponto final na questão: sim senhor, cerca de três milhões de votos eram suspeitos mas, vá lá, aceita-se a vitória de Ahmadinejad, franzino e com penteado de risca ao lado.
Mas o povo não se calou. Protestou na rua e exigiu nova recontagem. O deslizar para a violência foi um passo curto. A amnistia denuncia 15 mortos. De entre eles, sobressaiu uma nova heroína mundial. Neda, de nome, em fonia portuguesa. Uma espécie de Maria da Fonte, em versão portuguesa, ou de Joana d'Arc, para os franceses. Os guardas da revolução ameaçam os sites. Perante a imagem do sofrimento de Neda, Obama, em tom desconsolado, diz ter “o coração partido”, “heartbreak”. Mas esse desgosto tem um culpado: a internet. A mesma arma que Hillary Clinton encorajou a ser utilizada pelos iranianos. Não se fizeram rogados e aceitaram o desafio. As redes sociais são muitas, desde o You Tube ao Twitter, passando pelo HI5, Facebook e quejandos. O poder destes meios de comunicação é equivalente a uma arma poderosa.
A questão está longe de ser resolvida. Enquanto o governo português desaconselha viagens para o Irão, só nos resta ir acompanhando o que se passa no reino de um Deus cujo nome é utilizado para guerras fratricidas.
SÉRGIO LOUREIRO
Associado da ALTERNATIVA
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