segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

"CULTURA DO HIP-HOP" ???


Esta crónica visa confessar e provar a minha ignorância. A minha profunda ignorância, que ao longo dos anos tem vindo a crescer e (sou forçado a reconhecer) já bateu no fundo. Daquele cidadão que, embora improvavelmente, venha a ler esta confissão, espero que, sem qualquer sombra de escrúpulos, a guarde sob rigoroso segredo com a mesma garantia como, entre nós (uns atados e outros desatados) se guarda o tão badalado segredo de justiça. Ficarei, assim, com a certeza de que não irei ser lido como testemunha, mas antes, e com muita honra, na enobrecida (porque constitucional) qualidade de arguido em causa própria. Por isso, e ao contrário do Eça, não precisarei de “sobre a nudez forte da verdade” colocar “o manto diáfano da fantasia”…

E, no meu caso, a nudez da verdade é transparente como borras de café: eu, que aos 13 anos, como que arremedando o gato da madama, tocava viola e falava francês, até há pouco tempo não sabia para que servia e como funcionava o DVD! Pior: eu, que, naquela idade, fui cicerone na Exposição do Mundo Português, de 1940, para acompanhar os turistas de língua francesa, não sei o que é, não conheço de lado nenhum, a "cultura hip-hop", que vejo referida, com frequência, na comunicação social. Confesso que me sinto um grande “nabo”…

E confesso também que a minha noção de cultura democrática está seriamente desactualizada se comparada com certos factos que vão ocorrendo por todo o país. Aprendi que, em democracia, os litígios, as diferenças de opinião e as ideias se discutiam com base no diálogo, no respeito mútuo e na livre expressão do pensamento de cada um. Afinal, o que vemos e ouvimos todos os dias são insultos à vivência democrática por parte de políticos em discursos capciosos e atitudes desleais, estabelecendo enorme confusão entre os portugueses!… .

A minha actividade profissional desenvolveu-se ao longo de 46 anos (1946/1992), dos quais, os últimos 35 anos foram preenchidos no sector da indústria. Aprendi aí que a produtividade de uma empresa está longe de depender, exclusiva ou principalmente, dos seus trabalhadores. Estes estão no “fim da linha” e a seu montante existem factores importantes cuja produtividade pode e deve ser medida a fim de possibilitar uma “radiografia” completa da empresa e localizar os eventuais pontos fracos da sua produtividade global. Aprendi com a experiência a dar prioridade à determinação da Produtividade da Gestão e da Produtividade dos Meios Técnicos afectos directamente ao processo produtivo. Só depois me considerava habilitado a interpretar o índice da Produtividade dos Recursos Humanos, quer ao nível das Unidades produzidas, quer ao nível das Horas trabalhadas e da produtividade dos Custos com o Pessoal.

Mas o que se vai lendo todos os dias na nossa imprensa (e que vem pôr em destaque a minha desactualização) são referências (secas) à "produtividade por trabalhador", que consideram ser "a mais baixa da União Europeia". E avançam uma razão mefistofélica: "Começamos por não ter grandes hábitos de trabalho, ou seja, somos preguiçosos"! Que os nossos emigrantes em França, no Luxemburgo, na Alemanha, na Austrália, no Canadá, na América…lhes perdoem, pois não sabem o que dizem!

Quanto a mim, perante tanta e expressiva sabedoria, confesso que preferia continuar a ignorar para que serve o DVD e que raio de “cultura” é essa do “hip-hop”…

Fiquem bem. Eu, como se está a usar agora, fico “estupidamente tranquilo”...

JÚLIO CORREIA - Amigo da ALTERNATIVA

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