As culturas de outros povos têm aspectos que nos surpreendem muito e, numa primeira percepção, afiguram-se estranhas ao nosso sentir e à nossa vivência. Tal é um facto incontestado. Cabe-nos a nós, quando ouvimos, quando vemos e quando lemos perceber que estamos a contactar outras realidades diferentes e para as quais não cabem juízos de valor, desde que não agridam os direitos, consagrados como universais do ser humano. Vivemos uma época que muito se fala em diferenças culturais. No entanto, elas já estão referidas desde tempos bem remotos. Por exemplo, o contacto dos europeus com terras do Extremo-Oriente provocou situações de surpresa, de antagonismo e, até, de repúdio cultural. E a propósito de uma situação dessas, lembrámo-nos de uma descrição de um viajante espanhol, datada do final da centúria quinhentista. O aventureiro escrevinhador teve a oportunidade de contactar uma comunidade que vivia numa das muitas ilhas do arquipélago filipino, possuidora de pelo menos um costume assaz estranho para os olhos de um europeu, habituado a outras morais e comportamentos.
Conta o nosso viajante, nos seus relatos, que na dita comunidade as mulheres gozavam de uma vida íntima particularmente activa, antes da ligação oficial com um dos homens da tribo – o tradicional casamento. É um facto que a beleza física das mulheres sempre foi factor de atracção para os homens e, assim sendo, qualquer elemento masculino gostaria de arranjar uma companheira que fosse particularmente bela, para satisfação do seu ego de macho alimentado pelos olhares de inveja dos seus parceiros viris. No entanto, a cultura da dita comunidade ia mais longe pois, como não existiam os entraves às relações privadas antes do casamento, quanto mais as raparigas conhecessem sexualmente os homens da tribo, mais destacada seria a sua beleza e a sua capacidade de atrair o macho, ansioso por tais instintos absolutamente naturais. Neste contexto, nenhuma rapariga queria ser virgem – os deuses as guardassem de tal penoso destino! – como necessitavam mesmo de ter um rol significativo de experiências desse teor no seu curriculum pré-matrimonial. A questão era bastante séria para as cachopas, pois se permanecessem sem os tais contactos (ou mesmo com poucos) era sinal inequívoco que não valiam grande coisa como mulher…faltando-lhes os tais requisitos apreciados pelos homens e, sem eles, lá se ia a oportunidade de arranjar um companheiro certo e seguro para a vida, futuro pai dos seus rebentos.
Estranho costume? Para os nossos olhos, de certeza. No entanto, se reflectirmos um pouco sobre esse “bizarro” comportamento, encontramos nele uma lógica absolutamente racional e uma comunidade livre de preconceitos a esse nível, que deveria viver bem alegre e satisfeita. Pelo menos, as jovens solteiras.
ANABELA MONTEIRO
Associada da ALTERNATIVA
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