segunda-feira, 27 de julho de 2009

BURKA, VÉU E DEMOCRACIA


João César das Neves (JCN) excede-se no zelo com que divulga o pensamento oficial da Igreja católica. Há algum tempo, na habitual homilia de segunda-feira, no DN, referiu-se ao discurso que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, pronunciou em 22 de Junho no Parlamento, facto inédito, em França, desde 1875.

JCN vituperou este excerto do discurso: "A burka não é um símbolo religioso, é um símbolo de servidão, é um símbolo de abaixamento. Quero dizer solenemente, ela não será bem-vinda no território da República." O forte aplauso dos deputados franceses foi, segundo JCN, «da mais tacanha intolerância e incompreensão».

Convém esquecer a propensão beata de JCN e analisar o problema da burka ou, melhor ainda, a exibição ostensiva e provocatória de símbolos religiosos nos espaços públicos, sobretudo quando denunciam a submissão da mulher.

O Estado tem o direito de proibir em nome da liberdade e a obrigação de libertar através de uma proibição?

O problema divide as diversas famílias políticas, embora em França, apesar das graves cedências às religiões, feitas por Sarkozy, ao arrepio da Constituição, gere consenso a proibição da burka e do véu com que os mulás incitam as jovens a provocar a laicidade do Estado, nas escolas públicas, e a dar notório testemunho da submissão ao homem.

Os aplausos dos deputados sublinharam as afirmações de Sarkozy quando declarou que «…a tolerância tem limites e há muita coisa que não devemos permitir: crime, abuso, injustiça. A discriminação das mulheres e, pior ainda, a sua servidão e abaixamento são evidentemente intoleráveis».

É a supremacia da cidadania sobre o comunitarismo, a exigência da igualdade de género contra a tradição religiosa, a primazia das leis da República sobre os versículos do Corão.

JCN avalia a dignidade da mulher e a decência feminina pela porção de corpo oculto. É o direito de homem pio, que vê a mulher pelos olhos misóginos de Paulo de Tarso, mas as sociedades democráticas devem defender a igualdade de género e abolir o estigma do pecado original.

A sanha contra a laicidade dos sectores mais extremistas da Igreja católica fê-los aliados do islamismo cuja demência mística e vocação para o martírio admiram. O proselitismo está na matriz das religiões e serve de detonador das guerras que fomentam. Unem-se contra a laicidade e aguardam para se digladiarem, depois.

Há quem não perceba que a teocracia é o antónimo da democracia. É pena e é perigoso. Se o respeito pelas tradições fosse a bitola civilizacional teríamos ainda as monarquias absolutas, o esclavagismo, a tortura e, quiçá, a antropofagia, além de outras numerosas iniquidades. A civilização a que chegámos retrocederia para uma qualquer forma de tribalismo. Regressaria a barbárie. E o clero encarregar-se-ia de submeter as nossas vidas à vontade divina.


CARLOS ESPERANÇA

Associado da ALTERNATIVA

sexta-feira, 24 de julho de 2009

OS ELEFANTES TAMBÉM MORREM

Em Cabinda, na zona a norte do aquartelamento onde estive dois anos, na orla do Maiombe, havia um trilho - antes, uma autoestrada - por onde viajavam as manadas de elefantes em trânsito para ambos os Congos.
Por arte da arquitectura da natureza, esse trilho fazia um T perfeito com a cabeceira da pequena pista de aviação que tinhamos ao nosso dispôr. Era uma zona de entrada das nossas patrulhas, interdita a humanos fardados em dias de tráfego paquiderme. Era lindo, majestoso e aterrador. Nem o maior comboio de mercadorias produzia tanta onda sísmica. O primeiro apeadeiro daquela mole em movimento era um pequeno ribeiro que ficava mais abaixo onde o banho era obrigatório com todo o cerimonial que incluia berros, rugidos, tratamento de pele e calos, raspadelas nas árvores. Um festim.
Um dia, passada toda a animália, algo de estranho aconteceu. Nós, já mais habituados aos sons e vida da mata, daquela mata especial, sentimos que alguma coisa pairava por ali e que havia no ar aquela sensação electrizante de que a borrasca anda no ar. O silêncio era, como soi dizer-se, ensurdecedor. Acautelámo-nos. Redobrámos a vigilância. Demos ordens precisas de tiro imediato aos sentinelas, em especial aos que iriam fazer os quartos da noite. Entre nós alferes e os furrieis, escalámo-nos em contínuo por forma a haver uma rápida e organizada reacção a alguma surpresa. A noite caíu. Rápida, tropical, abafada, húmida, quente.
Poucos de nós cederam a Morfeu. Já era muito bom que o Zé soldado dormisse porque, doutra forma, teria sido difícil manter o sossego ainda que apenas aparente. A tensão, a dúvida e o suor que nascia das entranhas nada queriam com aquele personagem mítico.
Cerca da uma da manhã, levantei-me e acerquei-me da varanda térrea da nossa messe (que preciosismo naquele sítio!). Acocorados, sentados, enconstados a pilastras dos alpendres, sombras, vultos e um silêncio granítico, frio e escuro. Ninguém conseguia pregar olho. E a mata, ela também, aterradoramente silenciosa. Há uma lenda em Cabinda que diz que as árvores falam. E é verdade. Eu ouvi, em patrulha nocturna, aquele sussurro encantado da mata. Os gigantes falam mesmo uns com os outros.
Naquela noite, até eles se calaram.
De repente, um tremendo restolho, um grito ou um berro que mais parecia a trombeta do juízo final. Ficámos estarrecidos, cabelos em pé, reacção imediata e o pessoal a saír em tropel das camaratas e armado para a parada. Com o automatismo dos já muitos meses ali vividos, em segundos tínhamos toda a gente no seu sítio. E aguardámos.
Não havia tiros nem movimentações. O IN estacara, com certeza também ele surpreso. E novo berro. Gutural, fantástico, atroador o suficiente para até as copas das árvores abanarem. Aí, identificámos o IN na cabeceira da pista. Uma dúzia de homens e de pontaria mais certeira, bala na câmara, três graduados e vamos à pista...
Havia uma enorme parede, arredondada, ameaçadora, abanando aquilo que parecia ser um enorme tronco. O IN, desta vez, não trouxera o Cavalo de Troia.
Um enorme elefante-macho, quase certo o velho e doente patriarca, fora abandonado pela manada para, só, ir ao encontro dos seus antepassados.
Dias depois, alguém nos veio dizer que jazia já entregue aos desconstrutores da Natureza. Desde os maiores, terráquios ou alados, até à mais pequena formiguinha que termina aquele meticuloso e perfeito trabalho de limpeza natural. Avassalador!
Impressionam-me e maravilham-me sempre aquelas imagens dos rituais fúnebres dos elefantes. E, quando aprecio essas imagens, olho para mim mesmo e reconheço: humanos, como somos tão ínfimos e nos julgamos donos do mundo.

JORGE MARQUES LOUREIRO
Associado da ALTERNATIVA

quarta-feira, 15 de julho de 2009

PELA ESCOLA CULTURAL

Num mundo marcado pela incerteza e pela ambiguidade, a maior crise será axiológica, pelo atrofiamento dos valores humanistas, como a tolerância, a solidariedade e a liberdade. A escola contribui hoje para esta decadência axiológica imposta pelo jugo dos princípios utilitaristas, que aprisionaram as pedagogias e os próprios modelos de gestão. O predomínio do modelo económico europeu associado à racionalidade económica impõe à escola uma lógica de produtividade, qualidade e gestão empresarial. Os conceitos introduzidos por esta retórica, como «qualidade», «eficiência», «eficácia», «responsabilização» e «liderança», consubstanciam o regresso das teorias do capital humano, impondo a valorização do papel económico da educação em detrimento das concepções humanistas que preceituam a formação integral do indivíduo. A criação de recursos humanos qualificados, revalorizando uma política de educação tecnológica e profissional, pretende ser uma resposta às exigências da modernidade tecnológica, da competitividade económica e dos desafios da globalização.

A indolência corrosiva das massas e a ignorância pasmosa das elites políticas justificam a universalidade de tais racionalidades, impostas pela ideologia dominante. Existem modelos alternativos, mas apenas uns poucos parecem interessados em discuti-los e promovê-los, perante o desconhecimento geral e o silêncio dos especialistas. Um desses modelos é o da Escola Cultural, teorizado pelo professor Manuel Ferreira Patrício desde a década de 80, em torno da nova Lei de Bases do Sistema Educativo (1986). Em livros sucessivos, como A Escola Cultural (1996), A Escola Cultural e os Valores (1997), Escola, Aprendizagem e Criatividade (2001), Globalização e Diversidade. A Escola Cultural, Uma Resposta (2002), este docente tem fornecido a chave conceptual para uma escola centrada nos valores. A Escola Cultural visa o desenvolvimento integral da criança e do indivíduo, apoiado numa perspectiva pluridimensional que valoriza a criatividade como dimensão central do ser humano. No mundo da globalização, a Escola Cultural combate a uniformização e homogeneização cultural, pois só a diversidade cultural humana, surgida da liberdade criadora, antecipa e combate as expressões totalitárias. O debate em torno da Escola Cultural existe, mas carece de um alargamento à sociedade civil, que se disponha a apresentar alternativas às teorias do capital humano, pugnando por uma escola que promove o Homem e os valores. Como diria Manuel Ferreira Patrício, a escola deve realizar o humano no Homem. Essa deverá ser a sua missão principal.
MIGUEL SANTOS
Associado da ALTERNATIVA

sexta-feira, 10 de julho de 2009

ELE HÁ GENTE ASSIM !

Este meu “trabalho de investigação”, dedico-o ao meu Amigo e Director do “Jornal do Fundão”, Fernando Paulouro, pelas razões, óbvias, que mais abaixo decifrarão.

Pelas mãos do invencível e fidelíssimo Arcanjo S. Miguel, que já lá na Celestial Jerusalém venceu em renhida lucta o feroz e soberbo Lúcifer, Vos ofereço, ó Virgem Pura e Immaculada, Rainha Universal dos Ceos e da Terra, e até mesmo do Inferno, este meu pequeno e pobre trabalho que não tem outro fim, se não guerrear aquele mesmo Dragão, ao qual, Vós, poderosa e corajosa Judith, amaniestaste as mãos, e esmagaste a altiva cabeça. Ò Virgem das Virgens, Senhora da Conceição, livrai das unhas d’aquelle traidor Mestre d’Enganos esta vossa obra; purificae-a, abençoae-a e propagae-a Vós mesma.

Quem assim escreveu, fê-lo em forma de dedicatória ao seu livro “Satanaz Desmascarado ou Educação Práctica” e intitulou-se como “Professor Particular no Fundão”. Depois, num elucidatório “Prólogo”, começa com “Escrevi particularmente para os meus numerosos discípulos e contemporâneos d’outr’ora, que, há dez annos, me têm passado pelas mãos”.

Não me atrevo tentar descobrir o percurso (e o final) daqueles que, durante dez anos e, provavelmente, mais outros tantos, “passaram pelas mãos” de tão inclíto e incogitável pedagogo, que acudia por José Antunes dos Santos, e publicou em data para mim incerta, talvez na transição dos séculos XIX/XX, esta obra que pretende combater a “philosofia (…) a que pretendem chegar os estúpidos e corrompidos atheos, materialistas, maçónicos, carbonários, jacobinos e outras innumeraveis bestiagas, que escaparam à navalhinha do padre José Agostinho de Macedo, quando lhes esfolou a Besta-Mãi”. Terminando “FIM – Deo Gratias, et Marie Immaculatae”, numa invocação espiritual, etérea, confessional.

Na altura que dei de frente com tão repleta “philosophia” – acrescento como curiosa coincidência, - o senhor bispo do Porto, o actual, revelava-se preocupado com prosaicas coisas, materiais, do foro terreno, como a Liberdade de imprensa e interrogava-se se a mesma viria a ser limitada, (quiçá amordaçada!) por este, este mesmo ainda, Governo.

Coincidência, também curiosa, foi ter sido na altura em que se comemora Barbosa du Bocage, maçon, jacobino, poeta dos maiores se não o maior sonetista português, a par de Antero de Quental também ateu, maçon e jacobino, o qual Bocage, aludiu ao citado padre Agostinho de Macedo, que considera mestiço a avaliar pelo primeiro verso abaixo, e à sua hierarquia na Arcádia, da seguinte forma:

Preside o neto da rainha Ginga

À corja vil, aduladora, insana.

Traz sujo moço amostras de chanfana

E em copos desiguais se esgota a pinga

O paradigma do homem da Beira Interior, não é o deste José Antunes dos Santos, dir-me-ão. Pois não. Beato e velhaco ao mesmo tempo não poderei citar mais nenhum exemplo de memória... Em contrapartida, há relatos que sobem aos mais altos padrões da Honra, da Cidadania, da Integridade e do Despojamento. A disputa, que terminou em duelo, entre João Pinto dos Santos, advogado e parlamentar, natural das Donas, e João Franco (Pinto Castelo Branco). ministro do Reino. e natural da vizinha Alcaide, ambas do concelho do Fundão, demonstra isso mesmo! De resto, temos duas figuras contemporâneas com as costelas enxertadas nas Donas, aldeia tão pequenina, que vale a pena citar, também, neste contexto: José Hermano Saraiva e António Guterres. Por aqui me fico!


A. J. MARTINHO MARQUES

Associado da ALTERNATIVA

terça-feira, 7 de julho de 2009

MICHAEL JACKSON - IN MEMORIAM

Michael Jackson (Gary, 29 de Agosto de 1958 – Los Angeles, 25 de Junho de 2009)


Eu sou da geração de Thriller. E, apesar de não saber cantar, nem dançar, nem sequer assobiar (como cantava o nosso mítico Carlos Paião), a verdade é que ainda hoje a música do tema Thriller ecoa nos meus ouvidos e o videoclip que mundializou a composição musical continua vivo na minha memória.

É, não só por isso, mas também, que estou em discordância com José Pacheco Pereira que, na edição desta semana da Sábado afirma que Michael Jackson nunca lhe pareceu um génio, nem nada que se pareça, e considera que Freddie Mercury, Elton John, os Beatles e os Rolling Stones “vão mais fundo na música”. Michael Jackson, a seu ver, foi “um performer absoluto num corpo que não cabia em nenhuma pele”.

Ora bem: eu admiro Freddie Mercury, Elton John, os Beatles e os Rolling Stones, na mesma medida em que aprecio Michaeal Jackson. Digo admiro e aprecio, no presente, porque quem assim cria, seja música, seja qualquer outra expressão cultural, é, certamente, intemporal e imortal. Michael Jackson era mais; era um génio, quer pela genialidade das composições (letras e músicas), quer pela genialidade das suas produções em vídeo, quer ainda pela sua genialidade artística olhada como um todo.

Embora não seja uma especialista na área musical, não me parece que Michael Jackson tenha ido menos fundo na música do que Freddie Mercury, Elton John, os Beatles ou os Rolling Stones. Aliás, isso parece-me difícil de medir. No entanto, concordo que Michael Jackson era um corpo que não cabia em nenhuma pele, aliás, creio mesmo que era uma cabeça que não cabia em nenhum corpo. Essa será, aliás, uma característica dos seres dotados de genialidade.

Michael Jackson teve 45 anos de carreira em 50 anos de vida. Presenteou os seus fãs em todo o mundo, ao longo de quatro gerações, com 10 álbuns, e recebeu como presente, para além dos 750 milhões de discos vendidos, 18 Grammys.

O álbum Thriller, que saiu em Novembro de 1982, vendeu 106 milhões de exemplares, consagrando-se como o álbum mais vendido da história. Thriller foi também um marco decisivo na história da música, da dança, da moda, da televisão, porquanto revolucionou os conceitos até então dominantes nestes sectores. Mais: Thriller mudou mentalidades, pois foi o videoclip produzido para o tema por Billie Jean que ‘obrigou’ a MTV a colocar no ar um músico negro, tornando Michael Jackson no primeiro negro cuja música foi transmitida amplamente por esta estação televisiva.

Antes e depois de Thriller, Michael Jackson já era genial. Antes integrara, com quatro irmãos, a banda, primeiro denominada Jackson Five e, mais tarde, designada The Jacksons. Nas duas bandas, foi o principal compositor, destacando-se também na interpretação e na dança. Assim, não surpreende que, em 1979, tenha apresentado o seu primeiro álbum profissional a solo intitulado Off the Wall, o trabalho discográfico de black music mais vendido de sempre, aceitando-se como certo que vendeu 20 milhões de cópias.

A este primeiro sucesso mundial a solo seguiu-se Thriller e depois deste fenómeno musical e até 2005, Michael Jackson deu ao mundo da música mais nove álbuns, designadamente Bad; Dangerous; History: Past, Present & Future; Blood on the Dance Floor; Invincible; Greatest Hits-History; Number Ones; The Ultimate Collection e The Essential Michael Jackson - todos grandiosos sucessos de vendas que o transformaram no rei da Pop, numa SuperStar ou, como hoje também se diz, numa GlobalStar.

Agora, após a morte inesperada, os fãs manifestam, no seu site oficial, o desejo da realização de um Memorial Concert em várias cidades do mundo ao mesmo tempo. Eu, que cresci a ouvir a sua música, a ver os seus videoclips, que quis aprender inglês para compreender as suas canções, creio que, pelo menos, as cidades que se preparavam para receber os seus 50 concertos em meio ano deveriam pensar na organização de um concerto em sua memória. Afinal, coincidência ou não, Mickael Jackson morreu cerca de 12 horas depois de ensaiar horas a fio para a tour This is it - Isto é que é a verdade.

Noémia Malva Novais
Associada da ALTERNATIVA



sexta-feira, 3 de julho de 2009

O PODER DAS NOVAS TECNOLOGIAS



Na tremida teocracia iraniana, o poder está a desfazer-se na rua. A culpa é desse "maldito" sistema de dar ao povo a capacidade de escolher o presidente de um País, através do insuspeito (?!) voto, País que é apenas sonhado pelo nosso imaginário, de tão longínquo que está.

No dia 12 de Junho, dois protagonistas envolveram-se numa luta eleitoral. Mahmud Ahmadinejad – nome bem mais fácil de escrever, do que pronunciar – manteve a aposta de renovar o poder; Mir Hossein Mussori quis mudar o status quo. São tantos os eleitores, bem mais que as mães de cara e cabelo tapados, que a contagem dos votos demorou tempo.

Segundo rezam as crónicas dos suspeitos e insuspeitos, a vitória foi mais do mesmo: Ahmadinejad renovou o mandato perante os protestos de meio mundo.

O povo saiu à rua. Talvez na ânsia de protagonizar a revolta islâmica de 1979. Quis saber onde paravam os seus votos. Foram tantos os protestos que o tal meio mundo ia acompanhando o que se passava na terra dos ayatollah’s. Com o aumentar da dor da tola, o guia supremo, Ali Khamenei (cá vai mais um nome impronunciável) tentou colocar um ponto final na questão: sim senhor, cerca de três milhões de votos eram suspeitos mas, vá lá, aceita-se a vitória de Ahmadinejad, franzino e com penteado de risca ao lado.

Mas o povo não se calou. Protestou na rua e exigiu nova recontagem. O deslizar para a violência foi um passo curto. A amnistia denuncia 15 mortos. De entre eles, sobressaiu uma nova heroína mundial. Neda, de nome, em fonia portuguesa. Uma espécie de Maria da Fonte, em versão portuguesa, ou de Joana d'Arc, para os franceses. Os guardas da revolução ameaçam os sites. Perante a imagem do sofrimento de Neda, Obama, em tom desconsolado, diz ter “o coração partido”, “heartbreak”. Mas esse desgosto tem um culpado: a internet. A mesma arma que Hillary Clinton encorajou a ser utilizada pelos iranianos. Não se fizeram rogados e aceitaram o desafio. As redes sociais são muitas, desde o You Tube ao Twitter, passando pelo HI5, Facebook e quejandos. O poder destes meios de comunicação é equivalente a uma arma poderosa.

A questão está longe de ser resolvida. Enquanto o governo português desaconselha viagens para o Irão, só nos resta ir acompanhando o que se passa no reino de um Deus cujo nome é utilizado para guerras fratricidas.

SÉRGIO LOUREIRO

Associado da ALTERNATIVA