Para lá de não ser nenhum poço de virtudes (nem charco, quanto mais poço), tenho de confessar que sou feiota. Para já. Sou alta de mais para os meus 14 anos, o que faz, por um lado, que a malta toda lá da escola comece com aquelas graças parvas, «então como é que está o tempo lá em cima?», «quando chegares cá abaixo fecha o pára-quedas», coisas assim, vocês sabem; e, por outro lado, faz com que de cada vez que a minha mãe ou o meu pai (que nisto, benza-os Deus! são iguaizinhos) me apresentam a qualquer desconhecido lá das relações deles, avancem logo com a frase «por este andar não sei onde é que ela vai parar». Ao que o tal desconhecido normalmente reage com a pergunta «a quem é que ela sai assim?» cuja eloquente resposta depende de quem a dá. Se a pergunta é feita à minha mãe, ela diz «sai ao pai»; se é feita ao meu pai, ele diz «sai à mãe». Claro que isto só significa que nenhum deles quer arcar com a culpa de ter contribuído para o nascimento de um patinho feio, mas daqueles mesmo feios, que nunca chegarão a cisne.
ALICE VIEIRA, Úrsula, a Maior