sábado, 28 de março de 2009

DEFENDER A LIBERDADE


A Democracia é o regime que garante no máximo os direitos de todos os indivíduos, o que a leva, por definição, a caracterizar-se desde logo como igualitária. Não é para mim, nem para os do meu grupo, que eu exijo a liberdade; exijo-a, pelo contrário, para todos os homens, seja qual for a sua condição, grupo ou partido. É claro que um verdadeiro liberal se bateria mesmo pela liberdade dos seus adversários, e que nada o humilharia mais que o seu silêncio, nem nada o revoltaria tanto como uma luta de ideias que se não fundasse no rigoroso princípio da reciprocidade. Não exageraremos dizendo que essa liberdade de privilégio ser-lhe-ia mais dura que a escravidão.


 Raul Proença, Páginas de Política

sexta-feira, 20 de março de 2009

FOGOS FÁTUOS (OU O INFERNO IMAGINADO?)

Uns rapazes guardavam bezerros, que pastavam. A um deles, que andava mais afastado, apareceu um homem com dois sacos atados. Pediu-lhe que os desatasse com os dentes. Insistiu para que ele os desatasse depressa. O rapaz olhou-o e viu que lhe saíam chamas da boca. Fugiu e foi chamar companheiros, que acudiram e já não chegaram a ver nada.

 Horta de Literatura  de Cordel

domingo, 15 de março de 2009

AUSÊNCIA



Aquele claro Sol, que me mostrava

O caminho do Céu mais chão, mais certo,

E com seu novo raio ao longe e ao perto

Toda a sombra mortal m’afugentava,

 

Deixou a prisão triste, em que cá estava.

Eu fiquei cego e só, c’o passo incerto,

Perdido peregrino no deserto,

A que faltou a guia que o levava.

 

Assi, c’o esprito triste, o juízo escuro,

Suas santas pisadas vou buscando

Por vales e por campos e por montes.

 

Em toda a parte a vejo e a figuro.

Ela me toma a mão e vai guiando,

E meus olhos a seguem, feitos fontes.

 

ANTÓNIO FERREIRA (1528-1569)

segunda-feira, 9 de março de 2009

RIMBAUD E O AMOR

Uma bela manhã, num povo de gente adorável, um homem e uma mulher soberbos gritavam na praça pública: «Amigos, quero   que ela seja rainha!» «Quero ser rainha!». Ela ria e tremia. Ele falava de revelação, de prova terminada. Desfaleciam nos braços um do outro.

E efectivamente foram reis, por toda uma manhã, quando os véus carminados se ergueram sobre as casas, e por toda uma tarde, para os lados dos jardins de palmeiras.

 JEAN-ARTHUR RIMBAUD (1854-1891)

Iluminações – Uma Cerveja no Inferno (tradução de Mário Cesariny)

quinta-feira, 5 de março de 2009

AMOR-PRÓPRIO


SEM AMOR-PRÓPRIO NENHUMA VIDA É POSSÍVEL, NEM SEQUER A MAIS LEVE DECISÃO. SÓ DESESPERO E RIGIDEZ …

 

Hugo von Hofmannsthal (1874-1929), Livro dos Amigos