Uma mulher com quatro filhos que choram de fome, que distribui, apesar disso, metade do seu tempo, do seu carinho e do seu pão com uma vizinha desgraçada, não gosta da diferença que se faz da sua classe, que é dirigida pelo sentimento natural de beneficência, quando vê uma outra abastada, honrada, elogiada, correndo de carruagem, pregoando a caridade. Eu não participo desses preconceitos e reparos que se fazem, porque a caridade se exerce de carruagem; mas é preciso que quem assim a exerce se lembre, não do grande salto que deu para descer da carruagem, e entrar na casa do pobre, mas do salto que deu para subir a ela, porque a sua posição lhe trouxe o dever de socorrer os desvalidos.
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JOSÉ ESTÊVÃO, Primeiro Discurso sobre a Questão das Irmãs da Caridade (sessão parlamentar de 9 de Julho de 1861)