sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O LEÃO VELHO

Decrépito o leão, terror dos bosques,

E saudoso da antiga fortaleza,

Viu-se atacado pelos outros brutos,

Que intrépidos tornou sua fraqueza.

 

Eis o lobo c’os dentes o maltrata,

O cavalo c’os pés, o boi co’as pontas,

E o mísero leão, rugindo apenas,

Paciente digere estas afrontas.

 

Não se queixa dos fados; porém vendo

Vir o burro, animal de ínfima sorte:

«Ah! vil raça – lhe diz – morrer não temo,

Mas sofrer-te uma injúria é mais que morte!»

 

Fábula de La Fontaine ( versão de Bocage) 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

JOSÉ FALCÃO DEFENDE A COMUNA

O pequeno excerto do texto de José Falcão que inserimos lembra-nos que o programa político da Comuna de Paris não era o Comunismo mas o Comunalismo – ou seja, a descentralização, a liberdade individual ao serviço de pequenas organizações colectivas (que iam até às famílias), os departamentos provinciais e a economia não monopolista. José Falcão foi um grande Republicano e um nobilíssimo Cidadão. A ALTERNATIVA rende-lhe aqui uma reverente e sentida homenagem.

 […] Este partido que é o partido do futuro, enquanto a metralha não consente que seja o partido do presente, tem todavia o seu ideal político – é a República Federal. Entende que não está no espírito da sociedade humana suprimir a individualidade, e toda a existência colectiva intermédia, para só deixar subsistir uma grande existência geral, em que se absorvam todas as outras, asfixiando a liberdade nesta violenta concentração. O partido da Comuna entende que se há coisas que devem ser feitas pela grande unidade social ou nacional, há outras, e em muito maior número, que devem fazer-se por meio de unidades colectivas de ordem inferior, pela unidade departamental, comunal, ou das associações industriais e comerciais, pelas numerosas unidades de famílias, e, sobretudo, pelas unidades individuais: […]

 A Comuna de Paris e o Governo de Versalhes (da autoria de José Falcão, que publicou anonimamente este texto para não correr o risco de ser demitido pelo governo monárquico do tempo do seu lugar de Professor da Universidade de Coimbra). 

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

PRO RES PUBLICA


CENTENÁRIO DA REPÚBLICA 
 
 

Comissão Cívica de Coimbra para as Comemorações do Centenário da República 
 

                                                                APELO 
 

Cidadãs / Cidadãos 
 

Em 05 de Outubro de 2010 assinala-se o I Centenário da República. 

Pelo Decreto-Lei nº 17/2008, de 29 de Janeiro, foi criada a Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, a decorrer entre 31 de Janeiro e 5 de Outubro de 2010. 

Os abaixo assinados, Cidadãos de Coimbra, republicanos e democratas, em harmonia com os objectivos gerais das Comemorações, definidos pelo Governo e Presidente da República, entendem constituir-se em Comissão Cívica de Coimbra para as Comemorações do Centenário da República.  

É nossa intenção dinamizar, com as instituições, colectividades, associações e cidadãos que adiram a este projecto, um conjunto de iniciativas culturais diversificadas a nível concelhio, em ordem a contribuir para uma maior mobilização e participação da sociedade civil nas comemorações e para uma maior visibilidade dos objectivos pretendidos, especialmente junto das gerações mais jovens.  

Convidamo-la (o) a aderir a esta Comissão Cívica, a divulgar este Apelo e a participar no breve Acto Público da sua apresentação que, terá lugar no dia 31 de Janeiro, sábado, pelas 11h00, junto ao Monumento ao 25 de Abril, na Rua Antero de Quental. 

As adesões devem ser comunicadas para ALTERNATIVA – Associação Cultural para o Desenvolvimento do Ser Humano, alternativa.acdsh@gmail.com  
 

Coimbra, 21 de Janeiro de 2009 
 

Alternativa - Associação Cultural 

Associação 25 de Abril (Delegação Centro) 

Amadeu Carvalho Homem 

Anabela Monteiro 

Augusto Monteiro Valente 

Carlos Esperança 

Fernando Fava 

José Dias 

Rosa Campos  

sábado, 17 de janeiro de 2009

IR ...


Esta é a hora

em que a existência se constrói nos passos

de um deus que chega para me levar nos braços.

 

Esta é a hora

de espinho arrancar do pensamento.

Partir, nos rios, nas aves ou no vento.


 NATÁLIA CORREIA, Inéditos (1976/79) in “Poesia Completa”



domingo, 11 de janeiro de 2009

RECORDAR PASCOAES

Lembras-te, Meu Amor,

Das tardes outonais

Em que íamos os dois,

Sozinhos, passear

Para longe do povo

Alegre e dos casais

Onde só Deus pudesse

Ouvir-nos conversar ? …

Tu levavas na mão

Um lírio enamorado

E davas-me o teu braço

E eu pálido, sonhava

Na vida, em Deus, em ti …

 

[…]

 

TEIXEIRA DE PASCOAES, Elegia do Amor (excerto)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

MAU DILEMA

Eu escondo-me de toda a gente, quando me sinto poeta, que o mesmo é dizer sensível. Em coisas materiais é que me exponho francamente, para que toda a gente me tenha em conta do comum barro. Furto-me quanto posso a distinções odiosas, e às ridículas ainda mais. Ser tolo é má coisa; ser mau é coisa pior; mas quem puder livrar-se de ser ao mesmo tempo mau e tolo, seja antes mau. Os tiros do ódio podem ferir; mas assanham os brios, e dão azo à vitória; porém os tiros do escárnio matam sempre.

CAMILO CASTELO BRANCO, Bom Jesus do Monte

sábado, 3 de janeiro de 2009

CARTA AOS MEUS FILHOS

Neste início do ano de 2009, a ALTERNATIVA orgulha-se de apresentar este magnífico soneto da autoria do grande Poeta João de Castro Nunes, nosso muito querido Amigo, a quem ficamos a dever tantas e tão acariciantes palavras de estímulo ao nosso projecto. Não o fazemos como retribuição. Fazemo-lo como acto de Justiça. Como é possível que João de Castro Nunes não ande nas bocas do Povo, se faz poesia desta qualidade? Como é possível que os “intelectuais” da nossa Praça – triste praceta lusitana, cada vez mais indigente … - não exaltem a Obra de João de Castro Nunes? Por que somos tão provincianamente seguidistas ante a “ditadura intelectual” de meia dúzia de críticos falidos? É outra a nossa Cultura! CULTURA OUTRA é o nosso lema. Com João de Castro Nunes estamos com a “nossa gente”. Obrigado, Professor!

 

CARTA AOS MEUS FILHOS


Prestes a ir-me embora, filhos meus,
para encontrar-me com a vossa Mãe
que foi à minha frente ter com Deus,
isto vos digo para vosso bem:

amai tudo o que é bom na natueza,
tudo o que tem valor e qualidade,
nunca afirmando terdes a certeza
pois que ninguém é dono da verdade;

vossos pontos de vista defendei
com vigor e coragem, muito embora
sendo capazes de dizer: "Não sei!";

mas sobretudo, pela vida fora,
nunca façais papel de delatores
pelo que toca aos livre-pensadores!

João de Castro Nunes