domingo, 13 de dezembro de 2009

CHOQUES CULTURAIS ... UM CASO ESPECÍFICO


As culturas de outros povos têm aspectos que nos surpreendem muito e, numa primeira percepção, afiguram-se estranhas ao nosso sentir e à nossa vivência. Tal é um facto incontestado. Cabe-nos a nós, quando ouvimos, quando vemos e quando lemos perceber que estamos a contactar outras realidades diferentes e para as quais não cabem juízos de valor, desde que não agridam os direitos, consagrados como universais do ser humano. Vivemos uma época que muito se fala em diferenças culturais. No entanto, elas já estão referidas desde tempos bem remotos. Por exemplo, o contacto dos europeus com terras do Extremo-Oriente provocou situações de surpresa, de antagonismo e, até, de repúdio cultural. E a propósito de uma situação dessas, lembrámo-nos de uma descrição de um viajante espanhol, datada do final da centúria quinhentista. O aventureiro escrevinhador teve a oportunidade de contactar uma comunidade que vivia numa das muitas ilhas do arquipélago filipino, possuidora de pelo menos um costume assaz estranho para os olhos de um europeu, habituado a outras morais e comportamentos.

Conta o nosso viajante, nos seus relatos, que na dita comunidade as mulheres gozavam de uma vida íntima particularmente activa, antes da ligação oficial com um dos homens da tribo – o tradicional casamento. É um facto que a beleza física das mulheres sempre foi factor de atracção para os homens e, assim sendo, qualquer elemento masculino gostaria de arranjar uma companheira que fosse particularmente bela, para satisfação do seu ego de macho alimentado pelos olhares de inveja dos seus parceiros viris. No entanto, a cultura da dita comunidade ia mais longe pois, como não existiam os entraves às relações privadas antes do casamento, quanto mais as raparigas conhecessem sexualmente os homens da tribo, mais destacada seria a sua beleza e a sua capacidade de atrair o macho, ansioso por tais instintos absolutamente naturais. Neste contexto, nenhuma rapariga queria ser virgem – os deuses as guardassem de tal penoso destino! – como necessitavam mesmo de ter um rol significativo de experiências desse teor no seu curriculum pré-matrimonial. A questão era bastante séria para as cachopas, pois se permanecessem sem os tais contactos (ou mesmo com poucos) era sinal inequívoco que não valiam grande coisa como mulher…faltando-lhes os tais requisitos apreciados pelos homens e, sem eles, lá se ia a oportunidade de arranjar um companheiro certo e seguro para a vida, futuro pai dos seus rebentos.

Estranho costume? Para os nossos olhos, de certeza. No entanto, se reflectirmos um pouco sobre esse “bizarro” comportamento, encontramos nele uma lógica absolutamente racional e uma comunidade livre de preconceitos a esse nível, que deveria viver bem alegre e satisfeita. Pelo menos, as jovens solteiras.


ANABELA MONTEIRO

Associada da ALTERNATIVA

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

"CULTURA DO HIP-HOP" ???


Esta crónica visa confessar e provar a minha ignorância. A minha profunda ignorância, que ao longo dos anos tem vindo a crescer e (sou forçado a reconhecer) já bateu no fundo. Daquele cidadão que, embora improvavelmente, venha a ler esta confissão, espero que, sem qualquer sombra de escrúpulos, a guarde sob rigoroso segredo com a mesma garantia como, entre nós (uns atados e outros desatados) se guarda o tão badalado segredo de justiça. Ficarei, assim, com a certeza de que não irei ser lido como testemunha, mas antes, e com muita honra, na enobrecida (porque constitucional) qualidade de arguido em causa própria. Por isso, e ao contrário do Eça, não precisarei de “sobre a nudez forte da verdade” colocar “o manto diáfano da fantasia”…

E, no meu caso, a nudez da verdade é transparente como borras de café: eu, que aos 13 anos, como que arremedando o gato da madama, tocava viola e falava francês, até há pouco tempo não sabia para que servia e como funcionava o DVD! Pior: eu, que, naquela idade, fui cicerone na Exposição do Mundo Português, de 1940, para acompanhar os turistas de língua francesa, não sei o que é, não conheço de lado nenhum, a "cultura hip-hop", que vejo referida, com frequência, na comunicação social. Confesso que me sinto um grande “nabo”…

E confesso também que a minha noção de cultura democrática está seriamente desactualizada se comparada com certos factos que vão ocorrendo por todo o país. Aprendi que, em democracia, os litígios, as diferenças de opinião e as ideias se discutiam com base no diálogo, no respeito mútuo e na livre expressão do pensamento de cada um. Afinal, o que vemos e ouvimos todos os dias são insultos à vivência democrática por parte de políticos em discursos capciosos e atitudes desleais, estabelecendo enorme confusão entre os portugueses!… .

A minha actividade profissional desenvolveu-se ao longo de 46 anos (1946/1992), dos quais, os últimos 35 anos foram preenchidos no sector da indústria. Aprendi aí que a produtividade de uma empresa está longe de depender, exclusiva ou principalmente, dos seus trabalhadores. Estes estão no “fim da linha” e a seu montante existem factores importantes cuja produtividade pode e deve ser medida a fim de possibilitar uma “radiografia” completa da empresa e localizar os eventuais pontos fracos da sua produtividade global. Aprendi com a experiência a dar prioridade à determinação da Produtividade da Gestão e da Produtividade dos Meios Técnicos afectos directamente ao processo produtivo. Só depois me considerava habilitado a interpretar o índice da Produtividade dos Recursos Humanos, quer ao nível das Unidades produzidas, quer ao nível das Horas trabalhadas e da produtividade dos Custos com o Pessoal.

Mas o que se vai lendo todos os dias na nossa imprensa (e que vem pôr em destaque a minha desactualização) são referências (secas) à "produtividade por trabalhador", que consideram ser "a mais baixa da União Europeia". E avançam uma razão mefistofélica: "Começamos por não ter grandes hábitos de trabalho, ou seja, somos preguiçosos"! Que os nossos emigrantes em França, no Luxemburgo, na Alemanha, na Austrália, no Canadá, na América…lhes perdoem, pois não sabem o que dizem!

Quanto a mim, perante tanta e expressiva sabedoria, confesso que preferia continuar a ignorar para que serve o DVD e que raio de “cultura” é essa do “hip-hop”…

Fiquem bem. Eu, como se está a usar agora, fico “estupidamente tranquilo”...

JÚLIO CORREIA - Amigo da ALTERNATIVA

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

OS "ESPREITA" ou CONVERSA DE SOALHEIRO

Recapitulemos: as Autoridades competentes, autorizadas por quem de direito, fizeram escutas telefónicas a um conjunto de personalidades que consideravam suspeitas. Um desses suspeitos era amigo, de longa data, do Primeiro-Ministro. O Primeiro-Ministro falava com ele ao telefone da mesma maneira que qualquer um de nós poderia comunicar com um amigo muito próximo. E, com toda a probabilidade, o Primeiro-Ministro teria dito as mesmas impropriedades irreverentes que todos nós podemos confiar, pelo telefone ou em discurso directo e pessoal, àqueles que nos merecem total confiança. Se eu sou inimigo de um fulano qualquer, não o tratarei, nestas condições, por Sua Excelência mas sim por “aquele gajo”; e, tratando-se de uma Madame, eu não irei referi-la como “aquela encantadora Sílfide”, mas direi “ a tal tipa”. Isto pertence à “sabedoria das nações”, segundo creio. Mas tudo isto ganhará relevo novo se alguém permitir que a opinião pública, escancaradamente, tenha acesso a tais “desabafos”. É que as expressões “gajo” ou “tipa” irão contribuir infalivelmente para a depreciação da imagem de um político no activo, mesmo que elas possam ser reconhecidas como normais, usuais, correntias, numa conversação particular. Claro que poderá dar-se o caso de emergir dessa telefónica loquacidade o sintoma ou a confirmação de um crime. E aí poderão e deverão accionar-se as instâncias competentes do Estado de Direito (?), para que ao Primeiro-Ministro sejam imputadas as correspondentes responsabilidades criminais. Sobre esta suposição, não irei eu pronunciar-me. Já se pronunciaram os mais altos responsáveis, dando-se o caso de o terem feito … em sentidos divergentes. O que haverá, neste particular, de ser pedido às Faculdades de Direito do nosso país é que afinem um pouco mais a dialéctica jurídica e a tornem unívoca, para não assistirmos - nós cidadãos comuns, que pouco sabemos de Direito (interessa-nos mais a Filosofia) - ao deprimente espectáculo de vermos a interpretação jurídica pelas ruas da amargura. E com o agravo de a vermos assim estropiada, pela mão das mais conspícuas mentes da especialidade!! Este marulhar de interesses medra num subsolo que convém escavar. A vozearia dos que pedem a revelação das escutas produz-se não por estarem essas comadres convictas da culpabilidade criminal do Primeiro-Ministro, mas por terem a certeza da existência dos flatus vocis que sempre se expendem num diálogo privado. Olha se o “gajo” falou na Moura Guedes! E como teria o “tipo” referido a Ferreira Leite? Vamos pedir um microfone público, pois a safra será garantida! O desejo biltre de muita gentinha é que tudo, mas mesmo tudo, seja trazido à babugem da Praça Pública. Ora, o Primeiro-Ministro tem exactamente o mesmo direito à reserva privada que eu tenho, ao telefone ou à mesa do café, quando troco palavras com um amigo, seja ele presidiário ou frade capuchinho. Assim, de duas uma: ou o Primeiro-Ministro é criminalmente imputável e aí as responsabilidades da acusação terão de ser reclamadas não a ele (era o que faltava querermos agora que um criminoso se auto-culpasse!) mas ao Jurista-Mor desta marabunta (digam-me quem é, que eu ainda não percebi), ou o Primeiro-Ministro é criminalmente inimputável e tudo isto fede ao golpe dos que, não tendo ganho o jogo no relvado eleitoral, o querem ganhar na secretaria da batota do “politicalho”. E não deixa de ser estranho que as laboriosas sinapses dos que já pedem o afastamento do Primeiro-Ministro se mantenham agora em sono profundo quanto a uma promoção perpetrada em certo palácio cor-de-rosa, relativamente a um membro do “staff” presidencial sobre o qual impendem suspeitas, talvez até mais consistentes, de tentar a manipulação de meio mundo político… Também poderíamos falar de um tal “pretinho da Guiné”, da maravilhosa democracia do bananal madeirense, etc, etc.

Concluirei com esta confissão, que não tinha de ser feita, mas me apetece fazer: não votei neste Primeiro-Ministro, nem tenho por ele especial consideração. Mas há limites de decência e de cidadania que não me permitem ficar calado.

AMADEU CARVALHO HOMEM

Presidente da Direcção da ALTERNATIVA ...

(... mas escrevendo agora como simples Associado)