sexta-feira, 5 de setembro de 2008

CONSTITUIÇÃO DOS SÍMBOLOS

Os parnasianos tomam a coisa inteiramente e mostram-na; mas, assim, têm pouco mistério, subtraem às almas a alegria deliciosa de acreditar que criam. Nomear um objecto significa suprimir três quartos da fruição da poesia, que consiste em adivinhar pouco a pouco. Sugeri-lo, eis o sonho. É o uso perfeito deste mistério que constitui o símbolo: evocar um objecto para mostrar um estado de alma, ou, então, escolher um objecto e fazê-lo libertar um estado de alma, mediante uma série de decifrações.

Stéphane Mallarmé, Investigação sobre a evolução literária (1897)

2 comentários:

Anónimo disse...

RESSONÂNCIAS SIMBOLISTAS

Os meus brasões rasguei, meus pergaminhos,
vendi a minha casa, o meu solar,
deixei-me de arnaduras e de arminhos,
passando a ser um cidadão vulgar.

Os pés feri nas pedras dos caminhos
e calejei as mãos a trabalhar,
dei conta de sorrisos escarninhos
por já não ter cartão de titular.

Pura ilusão! agora mais que nunca,
ainda que a viver numa espelunca,
arrasto nos salões mantos de conde.

Em paz com Deus, em paz com toda a gente,
sinto-me rei na pele de regente
não sei concretamente... quando ou onde!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

SIMBOLOGIAS


O símbolo é a forma de expressão
do que não é palpável ou carece
de termo apropriado ou locução
para expressar o que se desconhece.

Por convenção, situa-se à direita
auguralmente o que nos traz a sorte,
enquanto que à esquerda nos espreita
a ave agoirenta que prediz a morte.

Perderam-se e ganharam-se combates
com base em tais conceitos que em verdade
nada mais são que puros disparates.

Porque há-de o azul simbolizar nobreza
e o verde ora esperança na incerteza
ora por vezes ... sinistralidade?!

João de Castro Nunes