Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.
Fernando Pessoa
4 comentários:
Bom é não despertar para que o Rei que mora nas tais ilhas não se dissipe frustrando as nossas esperanças. Viva Fernado Pessoa!
RUMOR DE BÚZIOS...
(Quase plagiando Fernando Pessoa)
Quando me deito, à luz do candeeiro,
horas já mortas para descansar,
ponho-me a ouvir, d'encontro ao travesseiro,
meu sangue nas artérias latejar:
é muitas vezes um rumor ligeiro
de búzios imitando o som do mar;
outras, um grito rouco de gajeiro
por entre a bruma atravessando o ar...
Depois, conforme vou adormecendo,
ao longe aos poucos vai também morrendo
o desfazer da espuma nas areias...
Neto de heróis, poetas e marujos,
que tem de estranho que nas minhas veias
ressoem noite fora os caramujos!
JOÃO DE CASTRO NUNES
A Direcção da "Alternativa- Associação Cultural" agradece ao Professor João de Castro Nunes a valorização deste blog, com as suas valiosas poesias. Ajudando-nos a construir um espaço de diálogo e de criatividade, este querido Amigo é credor do nosso muito respeito e profunda estima. Muito Obrigado! Pela Direcção da "Alternativa",
Amadeu Carvalho Homem
SONHAR ILHAS AFORTUNADAS
As Ilhas Afortunadas
não são ilhas, não são nada,
não se encontram registadas
em carta alguma arquivada.
Não se encontram rodeadas
por água doce ou salgada,
não foram nunca topadas
por qualquer nau desgarrada.
Só nos meus sonhos existem
essas ilhas que consistem
numa pura fantasia.
Nesse aspecto, como tais,
até podem ser reais
mas tão-só na Poesia!
JOÃO DE CASTRO NUNES
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