Um sábado em que tinha oito anos e boné de grande pala na cabeça dei por mim a desembrulhar cinco tostões de rebuçados dos “jogadores”, simpáticos drops com sabor a coisa nenhuma senão a açúcar e, por dentro, um cromo representando um craque do futebolinha de então. Custava cada um dez centavos. Havia uma caderneta onde a gente colocava, de acordo com a numeração, os cromos saídos, formando assim as equipas da Primeira Divisão. (Sucedia por vezes aparecer no Atlético um jogador que entretanto mudara para o Belenenses ou vice-versa, mas não fazia mal. )
Fernando Assis Pacheco (1937-1995), Memórias de um Craque
Fernando Assis Pacheco (1937-1995), Memórias de um Craque
4 comentários:
Lembro-me muito bem de ter feito várias colecções de cromos de "jogadores". O mais difícil de conseguir era o cromo com o "número da bola", pois era ele que dava direito à atribuição de uma magnífica bola de couro. Habitualmente,muitos comerciantes mais vivaços guardavam para os filhos, parentes ou amigos o famigerado "número da bola". Como não tinham Conselhos de Administração a distribuir pela parentela, favoreciam os eleitos com os meios que podiam. Que isto da corrupção em Portugal, por pequena ou grande que seja, é mazela que de longe vem ...
Amadeu Carvalho Homem
Memórias de todos nós, rapazes desse tempo, primorosamente evocadas e sabiamente aproveitadas pelo Prof. Amadeu Carvalho Homem para a sua autorizada prelecção moral fora da cátedr: pequenas mazelas de ontem comparadas com a socrática compra de "canudos" em universidades sem escrúpulos nos tempos de hoje. E mais não digo!
João de Castro Nunes
Nasci em 1943. Vivi, com o ardor próprio de uma vivência de criança, a euforia das colecções dos cromos de jogadores de futebol; o frenesim das conversas e das trocas com outros coleccionadores da minha idade,todos com a mente posta na ambicionada bola de couro. Entre eles nunca conheci algum a quem o tal «número da bola» tivesse saído. Hoje,tal como então, mas a uma escala diferente, os números da bola ou das bolas (das muitas bolas) só saem a alguns privilegiados.
A BOLA DE COURO
Não completei nenhuma caderneta
das colecções que havia antigamente
quando eu era rapaz, adolescente,
e acreditava a sério nessa treta.
A fim de preencher a colecção
das muitas que existiam nessa altura
faltava sempre uma qualquer figura
que nunca por sinal nos vinha à mão.
Questão de sorte ou caso de batota,
o certo é que até hoje não perdi
essa esperança, ainda que remota.
Pese às desilusões que a vida traz,
em todo o humano ser que conheci
no fundo existe uma alma de rapaz!
João de Castro Nunes
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