segunda-feira, 9 de junho de 2008

DE TARDE


Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

Cesário Verde, in O Sentimento dum Ocidental

5 comentários:

Anónimo disse...

Simlesmente... inimitável!

J. C. N.

Anónimo disse...

Corrijo a gralha: "simplesmente".
J. C. N

Anónimo disse...

ÚNICO

Cesários... não há dois
e Verdes... muito menos:
nem antes nem depois
houve quem compusesse
poemas tão terrenos
e com tanto harmonia
que a sua Poesia
nos enternece
como uma sinfonia
tocada com mestria
qual prece
ou qual ave-maria
que alguém quisesse
laicamente compor
com métrico rigor
em forma de heresia
que as almas extasia
e nos penetra pele!

Glória a ele!


João de Castro Nunes

Anónimo disse...

Corrijo o penúltimo verso, gralhado:

e nos penetra a pela!
J. C. N.

Anónimo disse...

Corrijo novamente:

e nos penetra a pele!

J. C. N.