quarta-feira, 18 de junho de 2008

O DILÚVIO DA VIDA

Indra matou o dragão, um gigantesco titã com forma de uma nuvem-serpente que se ocultava nas montanhas, e mantinha as águas celestes cativas no seu ventre. O deus arremessou o seu raio na direcção dos pesados anéis do dragão, e o monstro despedaçou-se como uma pilha de juncos. As águas libertaram-se e derramaram-se como fitas pela terra, voltando a circundar o corpo do mundo.
Este dilúvio é o dilúvio da vida e a todos pertence. É a seiva dos campos e da floresta, o sangue que circula nas veias. O monstro tinha-se apropriado deste bem comum, inchando a massa do seu corpo egoísta e ambicioso entre o céu e a terra, mas estava agora morto. Os sucos voltaram a fluir; os titãs refugiaram-se nos mundos subterrâneos; os deuses regressaram ao topo da montanha que ficava no centro, para voltar a reinar das alturas.

HEINRICH ZIMMER (1890-1943), Mitos e Símbolos na Arte e Civilização Indianas

2 comentários:

Anónimo disse...

INDRA E O DRAGÃO


Os deuses voltam sempre, triunfantes,
dê lá por onde der; sempre assim foi:
hoje, amanhã, agora como dantes,
há sempre um deus na pele dum herói.

Assim é que este mundo se constrói
em tremendos combates alternantes
entre o dragão que a alma nos corrói
e os deuses que estão sempre vigilantes.

Embora em linguagem figurada,
isto traduz a luta inacabada
do ser humano ao longo da existência.

Nunca os dragões acabarão de vez
mas hão-de encontrar sempre resistência
da nossa parte e de algum deus... talvez!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

DILÚVIO

Alguém, que não importa referir,
lembrou-se um dia, já não sei bem quando,
de represar a água, empecilhando
que outros pudessem dela usufruir.

Queria a água apenas para si,
ainda que não necessitasse dela,
por egoísmo só, como entendi
da reacção de toda a gente aquela.

Todos à uma, cheios de coragem,
puseram mãos à obra e num instante
fizeram em pedaços a barragem.

Tudo a água inundou, levou diante,
incluindo a referida personagem
da sua própria perdição... causante!

João de Castro Nunes