Indra matou o dragão, um gigantesco titã com forma de uma nuvem-serpente que se ocultava nas montanhas, e mantinha as águas celestes cativas no seu ventre. O deus arremessou o seu raio na direcção dos pesados anéis do dragão, e o monstro despedaçou-se como uma pilha de juncos. As águas libertaram-se e derramaram-se como fitas pela terra, voltando a circundar o corpo do mundo.
Este dilúvio é o dilúvio da vida e a todos pertence. É a seiva dos campos e da floresta, o sangue que circula nas veias. O monstro tinha-se apropriado deste bem comum, inchando a massa do seu corpo egoísta e ambicioso entre o céu e a terra, mas estava agora morto. Os sucos voltaram a fluir; os titãs refugiaram-se nos mundos subterrâneos; os deuses regressaram ao topo da montanha que ficava no centro, para voltar a reinar das alturas.
HEINRICH ZIMMER (1890-1943), Mitos e Símbolos na Arte e Civilização Indianas
Este dilúvio é o dilúvio da vida e a todos pertence. É a seiva dos campos e da floresta, o sangue que circula nas veias. O monstro tinha-se apropriado deste bem comum, inchando a massa do seu corpo egoísta e ambicioso entre o céu e a terra, mas estava agora morto. Os sucos voltaram a fluir; os titãs refugiaram-se nos mundos subterrâneos; os deuses regressaram ao topo da montanha que ficava no centro, para voltar a reinar das alturas.
HEINRICH ZIMMER (1890-1943), Mitos e Símbolos na Arte e Civilização Indianas
2 comentários:
INDRA E O DRAGÃO
Os deuses voltam sempre, triunfantes,
dê lá por onde der; sempre assim foi:
hoje, amanhã, agora como dantes,
há sempre um deus na pele dum herói.
Assim é que este mundo se constrói
em tremendos combates alternantes
entre o dragão que a alma nos corrói
e os deuses que estão sempre vigilantes.
Embora em linguagem figurada,
isto traduz a luta inacabada
do ser humano ao longo da existência.
Nunca os dragões acabarão de vez
mas hão-de encontrar sempre resistência
da nossa parte e de algum deus... talvez!
João de Castro Nunes
DILÚVIO
Alguém, que não importa referir,
lembrou-se um dia, já não sei bem quando,
de represar a água, empecilhando
que outros pudessem dela usufruir.
Queria a água apenas para si,
ainda que não necessitasse dela,
por egoísmo só, como entendi
da reacção de toda a gente aquela.
Todos à uma, cheios de coragem,
puseram mãos à obra e num instante
fizeram em pedaços a barragem.
Tudo a água inundou, levou diante,
incluindo a referida personagem
da sua própria perdição... causante!
João de Castro Nunes
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