terça-feira, 15 de julho de 2008

PACÍFICA FIRMEZA

Se estás disposto a nunca usar da violência, e sempre resistindo, torna-te forte de corpo e de alma; é a mais difícil de todas as atitudes; exige a constante vigilância de todos os movimentos do espírito, o domínio completo de todos os impulsos dos nervos e dos músculos rebeldes; a agressão é fácil contra o medo e também a primeira solução; para que, em todos os instantes, a possas pôr de lado e substituí-la pela tranquila recusa, não te deves fiar nos improvisos; a armadura de que te revestes nos momentos de crise é forjada dia a dia e antes deles; faz-se de meditação e de ginástica, de pensamento definido e preciso e de perfeitos comandos; quando menos se prevê surge o instante da decisão; rápida e firme, sem emoções ou sufocando-as, tem de trabalhar a máquina formada.

AGOSTINHO DA SILVA (1906-1994), Ir à Índia sem abandonar Portugal

4 comentários:

Anónimo disse...

EMOTIVIDADE

À memória - em discordância - do pensador Agostinho da Sila

Não basta dizer não, cruzando os braços
ante a opressão que as mentes atrofia
e com grilhões ou quaisquer outros laços
nos tolhe a reacção à felonia.

Não sou dos que se ficam pela ideia
de que se deve à força resistir
as armas enterrando sob a areia
até chegar a ocasião de agir.

Prefiro o gesto nobre e arrogante
de Vaz de Almada, aparecendo armado
ante o real conselho conluiado.

Não basta em pensamente dizer não, mas escutando a voz do coração
a luva levantar no mesmo instante!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

AS MINHAS ÍNDIAS

Na minha condição de português
por natureza aberto à terra inteira
plantei de cruz na mão minha bandeira
entre populações de outro haez.

Amei, rezei, fiz versos e poemas
a quantas deusas pelo mundo achei
nos vários continentes que habitei
sem perturbar por norma os seus sistemas.

Mais do que a língua que falamos todos
e se vai corrompendo dia a dia
por força da alcançada autonomia,

por lá deixei ficar, por muitos modos,
o meu pendor, a minha faculdade
de conviver com toda a humanidade!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

No 4º verso da 1ª quadra, corrijo para "jaez" a gralha "haez".Acontece.

J. C. N.

Anónimo disse...

ESTIVE LÁ

Sem deixar o meu lar
em frente ao mar
que nunca fiz tenção de abandonar
por comigo morar
e sempre a ele retornar
ao fim de cada terra a desvendar
estive lá
estive sempre lá
de dia, à noitr, à tarde, de manhã
em todos os combates
e todos os debates
ouvindo e proferindo
tanto verdades como disparates
de todos os quilates
sobre Alcácer-Quibir
e Dom Sebastião
que há-de tornar a vir
"quer venha ou não";
estive lá
estive sempre lá
sem deixar de estar cá
no meio da metralha
de cada patriótica batalha
em carne e osso, espírito e acção,
com todo o meu talento e coração
pois desde que nasci
ou se calhar antes talvez
eu assumi
a minha condição de português!

João de Castro Nunes