terça-feira, 22 de julho de 2008

UM AMIGO


Num daqueles dias de outono, em que nos queima a vermelha labareda das folhas, um amigo pedia que lhe contasse uma história. “Salva-me a vida, conta-me uma história”. E eu recordei aquela mulher das Mil e Uma Noites, que encadeava, com doçura e desespero, uma história na outra, pois só a história infinita nos permite escapar à maldição da morte.
Um amigo é uma história que nos salva.

MÁRIO RUI DE OLIVEIRA (1973-), O Vento da Noite (2002)

3 comentários:

Anónimo disse...

NÃO TE ESQUEÇAS, SENHOR, DOS MEUS AMIGOS!

Senhor, eu sei que tenho ao ao pé de Ti
um lugar reservado em atenção
àquela que me deste e que eu perdi
para desgraça minha em dia não.

Se nunca grande coisa te pedi,
peço-ta agora, nesta ocasião,
enquanto não me levas para aí,
onde reside já meu coração.

Guarda também, Senhor, uns bons lugares
para todos os meus familiares
perto de nós os dois, se puder ser!

E não te esqueças, que isso é importante,
dos meus Amigos, que desejo ter
num sítio nem somenos nem distante!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

DOIS AMIGOS

No fim da vida, fez-me Deus achar
dois grandes, bons, cultíssimos Amigos,
CARVALHOS de apelido, dos antigos
que é já muito difícil encontrar.

De MONTEZUMA um tinha o outro nome,
uma excelente e santa criatura
que deixou rasto na literatura
com seus "ensaios" do maior renome.

HOMEM se chama o outro, um verdadeiro
grande-senhor do espírito, o primeiro
Mestre que conheci na minha vida.

Eu vejo nele a Universidade
com tudo quanto de autenticidade
ela devia estar comprometida!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

AMIGOS À MEDIDA

Nos pleitos concernentes à amizade,
o grande mal de Erasmo, o humanista
por excelência da era quinhentista,
foi sempre a sua extrema ambiguidade.

Por não se definir concretamente
para onde o seu espírito pendia,
de ambos os lados dele desconfia
quem não descobre o que ele pensa ou sente.

O mesmo aconteceu com seu mentor,
o magno Cícero, o escritor maior
da antiguidade helénico-latina.

Chegada a altura de apelar a alguém
perante a acusação que os incrimina
qualquer dos dois não encontrou ninguém!

João de Castro Nunes