quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

EMANCIPAÇÃO PELO TRABALHO

A mocidade vive nas antecâmaras do governo como os antigos poetas do século passado nas salas de jantar dos fidalgos ricos. Os moços […] dizem-se republicanos, democratas, socialistas, […] mas não nos dão em si próprios o exemplo de que o primeiro dever de todo o cidadão que se quer prezar de democrata e de livre é ele próprio bastar para si mesmo, prover pela sua iniciativa a todas as suas necessidades, trabalhar só, viver de si, que é o único meio de não ser explorado e de não explorar ninguém, afirmar-se finalmente na única forma da independência poderosa e legitima, na única dignidade verdadeira e segura – o trabalho pessoal e livre. A mocidade tem a mais elevada compreensão dos destinos sociais, da moral e da justiça. Unicamente a mocidade tem um defeito que há-de esterilizar a sua iniciativa: ela pensa, mas não trabalha.

 RAMALHO ORTIGÃO, As Farpas

1 comentário:

Anónimo disse...

AGORA COMO DANTES


Grande Ramalho, o estado em que vivemos,
um século depois do que escreveste,
continua a sofrer da mesma peste
em que sem solução nos debatemos.

A nossa juventude acha melhor,
na sua ausência de juízo crítico,
viver à sombra do poder político
que emancipar-se pelo seu valor.

De inúteis regurgita o parlamento
que sob o manto da democracia
o povo explora sem nenhum talento.

Trabalho a sério, para seu sustento,
é para o preto, como se dizia
nos tempos de uma certa fidalguia!

João de Castro Nunes