quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

RETALHOS DA VIDA ...

 “Já lá vão dez anos” – dizia-me. “O lirismo acabou. Tenho o destino que me é devido. Tentei atravessar esses muros que estão à frente dos que começam sem a influência dum pai abastado ou duma camarilha. Cansei-me, desisti. A qualquer de nós resta sempre uma migalha; aceitei a que me estava destinada. Talvez não tivesse sabido lutar, talvez não o merecesse: encontramos sempre justificação para as nossas fraquezas. De qualquer dos modos, vou-me conformando. Trabalho, como, durmo. É o bastante para encher uma vida …”

 FERNANDO NAMORA, Retalhos da Vida de um Médico

3 comentários:

Anónimo disse...

FERNANDO NAMORA
(Rua dos Militares, nº 10)


Quase sempre de capa e de batina,
eu dele me recordo muito bem
dos tempos de estudante, um zé-ninguém,
cursando desde logo medicina.

Na mesma casa estávamos os dois,
que só deixou já próximo do fim
de se licensiar, para depois
abandonar Coimbra antes de mim.

Nunca supus que ele viria a dar
num escritor, num grande romancista
de estilo primoroso e singular.

Foi nessa casa, creio, frequentada
por estudantes de índole esquerdista
que ele ouviria o eco da chamada!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

Nota - A versão, que se segue, anula obviamente a anterior.

FERNANDO NAMORA
(Rua dos Militares, nº 1o)


Quase sempre de capa e de batina,
recordo-o bem, dos tempos de estudante,
quando ele era escolar de medicina,
cruzando-se comigo a cada instante.

Na mesma casa estávamos os dois,
donde saiu já próximo do fim
de se licenciar, para depois
abandonar Coimbra antes de mim.

Nunca supus que ele viria a dar
num escritor, num grande romancista
de estilo primoroso e singular!

Foi nessa casa, creio, frequentada
por estudantes de índole esquerdista
que ele ouviria o eco da chamada!

João de Castro Nunes

Luís Alves de Fraga disse...

Primorosos os "retalhos" deixados, com cuidado, neste blog. Lêem-se de um trago, mas digerem-se com a lentidão dos grandes repastos. Diria que são bocadinhos de requintadas escolhas.