Há cerca de duzentos anos, viveu no Japão um monge Zen muito especial chamado Ryokan. Nunca vi uma vida mais humilde, profunda e real do que a sua. Como provavelmente sabem, certa vez ele escreveu um curto poema quando descobriu que um ladrão lhe tinha roubado todos os seus escassos haveres. De facto, na sua cabana apenas havia as coisas essenciais para o seu dia a dia, tais como um par de cobertores velhos, um pincel, tinta, papel, uma toalha e uma bacia para se lavar. Ryokan escreveu:
« O ladrão deixou
A lua
Na janela »
HÔGEN YAMAHATA (1935), Folhas Caem, Um Novo Rebento
2 comentários:
Eis a Poesia pura!
TIREM-ME TUDO!
(Arremedando o poema de Ryokan)
Tirem-me tudo
a própria liberdade
e a consideração
Tirem-me tudo
e metam-me, se querem, na prisão
torturem-me da sorte mais atroz
tirem-me a voz
tornem-me mudo
arranquem-me a visão
Tirem-me tudo
menos a faculdade de pensar
e de amar
e ver a palidez da lua
por entre as grades da prisão
privado sem razão
de novamente caminhar na rua
até fechar os olhos e morrer
Tirem-me tudo
à excepção
do lídimo prazer
de me afirmar... a escrever!
JOÃO DE CASTRO NUNES
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