sexta-feira, 10 de julho de 2009

ELE HÁ GENTE ASSIM !

Este meu “trabalho de investigação”, dedico-o ao meu Amigo e Director do “Jornal do Fundão”, Fernando Paulouro, pelas razões, óbvias, que mais abaixo decifrarão.

Pelas mãos do invencível e fidelíssimo Arcanjo S. Miguel, que já lá na Celestial Jerusalém venceu em renhida lucta o feroz e soberbo Lúcifer, Vos ofereço, ó Virgem Pura e Immaculada, Rainha Universal dos Ceos e da Terra, e até mesmo do Inferno, este meu pequeno e pobre trabalho que não tem outro fim, se não guerrear aquele mesmo Dragão, ao qual, Vós, poderosa e corajosa Judith, amaniestaste as mãos, e esmagaste a altiva cabeça. Ò Virgem das Virgens, Senhora da Conceição, livrai das unhas d’aquelle traidor Mestre d’Enganos esta vossa obra; purificae-a, abençoae-a e propagae-a Vós mesma.

Quem assim escreveu, fê-lo em forma de dedicatória ao seu livro “Satanaz Desmascarado ou Educação Práctica” e intitulou-se como “Professor Particular no Fundão”. Depois, num elucidatório “Prólogo”, começa com “Escrevi particularmente para os meus numerosos discípulos e contemporâneos d’outr’ora, que, há dez annos, me têm passado pelas mãos”.

Não me atrevo tentar descobrir o percurso (e o final) daqueles que, durante dez anos e, provavelmente, mais outros tantos, “passaram pelas mãos” de tão inclíto e incogitável pedagogo, que acudia por José Antunes dos Santos, e publicou em data para mim incerta, talvez na transição dos séculos XIX/XX, esta obra que pretende combater a “philosofia (…) a que pretendem chegar os estúpidos e corrompidos atheos, materialistas, maçónicos, carbonários, jacobinos e outras innumeraveis bestiagas, que escaparam à navalhinha do padre José Agostinho de Macedo, quando lhes esfolou a Besta-Mãi”. Terminando “FIM – Deo Gratias, et Marie Immaculatae”, numa invocação espiritual, etérea, confessional.

Na altura que dei de frente com tão repleta “philosophia” – acrescento como curiosa coincidência, - o senhor bispo do Porto, o actual, revelava-se preocupado com prosaicas coisas, materiais, do foro terreno, como a Liberdade de imprensa e interrogava-se se a mesma viria a ser limitada, (quiçá amordaçada!) por este, este mesmo ainda, Governo.

Coincidência, também curiosa, foi ter sido na altura em que se comemora Barbosa du Bocage, maçon, jacobino, poeta dos maiores se não o maior sonetista português, a par de Antero de Quental também ateu, maçon e jacobino, o qual Bocage, aludiu ao citado padre Agostinho de Macedo, que considera mestiço a avaliar pelo primeiro verso abaixo, e à sua hierarquia na Arcádia, da seguinte forma:

Preside o neto da rainha Ginga

À corja vil, aduladora, insana.

Traz sujo moço amostras de chanfana

E em copos desiguais se esgota a pinga

O paradigma do homem da Beira Interior, não é o deste José Antunes dos Santos, dir-me-ão. Pois não. Beato e velhaco ao mesmo tempo não poderei citar mais nenhum exemplo de memória... Em contrapartida, há relatos que sobem aos mais altos padrões da Honra, da Cidadania, da Integridade e do Despojamento. A disputa, que terminou em duelo, entre João Pinto dos Santos, advogado e parlamentar, natural das Donas, e João Franco (Pinto Castelo Branco). ministro do Reino. e natural da vizinha Alcaide, ambas do concelho do Fundão, demonstra isso mesmo! De resto, temos duas figuras contemporâneas com as costelas enxertadas nas Donas, aldeia tão pequenina, que vale a pena citar, também, neste contexto: José Hermano Saraiva e António Guterres. Por aqui me fico!


A. J. MARTINHO MARQUES

Associado da ALTERNATIVA

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