quarta-feira, 15 de julho de 2009

PELA ESCOLA CULTURAL

Num mundo marcado pela incerteza e pela ambiguidade, a maior crise será axiológica, pelo atrofiamento dos valores humanistas, como a tolerância, a solidariedade e a liberdade. A escola contribui hoje para esta decadência axiológica imposta pelo jugo dos princípios utilitaristas, que aprisionaram as pedagogias e os próprios modelos de gestão. O predomínio do modelo económico europeu associado à racionalidade económica impõe à escola uma lógica de produtividade, qualidade e gestão empresarial. Os conceitos introduzidos por esta retórica, como «qualidade», «eficiência», «eficácia», «responsabilização» e «liderança», consubstanciam o regresso das teorias do capital humano, impondo a valorização do papel económico da educação em detrimento das concepções humanistas que preceituam a formação integral do indivíduo. A criação de recursos humanos qualificados, revalorizando uma política de educação tecnológica e profissional, pretende ser uma resposta às exigências da modernidade tecnológica, da competitividade económica e dos desafios da globalização.

A indolência corrosiva das massas e a ignorância pasmosa das elites políticas justificam a universalidade de tais racionalidades, impostas pela ideologia dominante. Existem modelos alternativos, mas apenas uns poucos parecem interessados em discuti-los e promovê-los, perante o desconhecimento geral e o silêncio dos especialistas. Um desses modelos é o da Escola Cultural, teorizado pelo professor Manuel Ferreira Patrício desde a década de 80, em torno da nova Lei de Bases do Sistema Educativo (1986). Em livros sucessivos, como A Escola Cultural (1996), A Escola Cultural e os Valores (1997), Escola, Aprendizagem e Criatividade (2001), Globalização e Diversidade. A Escola Cultural, Uma Resposta (2002), este docente tem fornecido a chave conceptual para uma escola centrada nos valores. A Escola Cultural visa o desenvolvimento integral da criança e do indivíduo, apoiado numa perspectiva pluridimensional que valoriza a criatividade como dimensão central do ser humano. No mundo da globalização, a Escola Cultural combate a uniformização e homogeneização cultural, pois só a diversidade cultural humana, surgida da liberdade criadora, antecipa e combate as expressões totalitárias. O debate em torno da Escola Cultural existe, mas carece de um alargamento à sociedade civil, que se disponha a apresentar alternativas às teorias do capital humano, pugnando por uma escola que promove o Homem e os valores. Como diria Manuel Ferreira Patrício, a escola deve realizar o humano no Homem. Essa deverá ser a sua missão principal.
MIGUEL SANTOS
Associado da ALTERNATIVA

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